Crianças e adolescentes do lixão de Jardim Gramacho: razões de um fracasso anunciado
Ano de defesa: | 2023 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Dissertação |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Faculdade de Formação de Professores Brasil UERJ Programa de Pós-Graduação em Educação - Processos Formativos e Desigualdades Sociais |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/20747 |
Resumo: | A motivação dessa pesquisa procura investigar e compreender as razões do fracasso escolar de crianças e adolescentes de Jardim Gramacho, bairro do município de Duque de Caxias/RJ, que já abrigou o maior aterro sanitário da América Latina. Como educador social há seis anos no local, o fracasso escolar generalizado da população me motivou adentrar nesse trabalho em tela. O nosso objetivo consistiu em analisar como as crianças e adolescentes desenvolvem um habitus precário – que atua como frágeis disposições para a disciplina, autocontrole, visão prospectiva, capacidade de concentração e abstração – em seus contextos de sociabilização, sobretudo, de socialização familiar, e como esse habitus precário impacta os seus processos de escolarização. Para esse desiderato, nos fundamentamos, principalmente, na teoria de classes de Jessé Souza (2018b) e na teoria do sistema de ensino de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron (2014), partindo da premissa de que a desigualdade escolar reflete a estrutura das relações de classe desiguais, acentuadas em países de capitalismo periférico e exescravista, como o Brasil. Diante deste arcabouço teórico, realizamos uma pesquisa empírica baseada no dispositivo metodológico “Retratos Sociológicos” de Bernard Lahire (2004), em que investigamos duas crianças e três adolescentes do lixão de Jardim Gramacho, por meio de entrevistas sucessivas com as mães e observações/interações com os sujeitos da pesquisa na rotina escolar e nos encontros da Organização não Governamental (ONG) Colheita. Constatamos uma posição social extremamente desclassificada dos pesquisados, oriunda de sua origem de classe da “ralé estrutural” (SOUZA, 2018a), manifestada por uma vida familiar desorganizada e disruptiva, com experiências socializadoras de pouca rigorosidade disciplinar, prospecção e desenvolvimento do pensamento abstrato, que relega as crianças e os adolescentes a um fracasso anunciado na escola, onde há um pressuposto dissimulado de que os estudantes adentrem ao colégio com um habitus primário (SOUZA, 2018b). Assim, o sistema de ensino estabelece implicitamente um arbitrário cultural (BOURDIEU e PASSERON, 2014) e uma má-fé institucional (FREITAS, 2018) que atuam como uma exclusão branda, suave e astuciosa dos sujeitos oriundos da “ralé” (BOURDIEU e CHAMPAGNE, 2012; FREITAS, 2018). Averiguamos também que o quadro de fracasso escolar no Brasil se acentua, porque a Instituição escolar quando se depara com os estudantes da “ralé” torna-se cronicamente falível em uma postura do tipo: “não há o que fazer”, em especial com a precarização estrutural da escola e do trabalho docente no país. Com os “Retratos Sociológicos” conseguimos discutir esse fracasso anunciado na cotidianidade dos sujeitos da pesquisa, isto é, no interior de sua vida familiar e no dia a dia da sala de aula. Por fim, o material empírico desse trabalho, assim como, o seu embasamento teórico, nos levou a refletir preliminarmente acerca das possibilidades do improvável, ou seja, a prospectar uma possível mudança social para as crianças e adolescentes do lixão de Jardim Gramacho, oriundos da “ralé estrutural”. |