Variações leibnizianas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Maia, Caetano Torelli de Mello
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais::Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/16850
Resumo: Quando uma filosofia começa, parte de um campo em profusão, sem coordenadas prontas, pleno de variações infinitas, sobre as quais ela irá projetar um plano, desenhar uma orientação, uma distribuição específica. Toda filosofia começa onde ainda não há uma filosofia do cogito, do ponto fixo, do indivíduo, de todo e qualquer termo que paralisaria um discurso num limite estabelecido, num território inviolável, num centro. Toda filosofia começa numa multiplicidade, numa diferença impassível e todo começo diz praticamente tudo sobre como um filósofo pensa essa multiplicidade e como configura essa diferença. De saída, existem ao menos duas maneiras de um filósofo começar: 1) ou se rejeita, como Descartes, o espaço das variações em nome de um invariante fixo, de uma condição primeira da experiência, de um ponto fundamental, originário e inabalável em torno do qual todo movimento do pensamento deve girar, em relação ao qual tudo deve ser julgado à imagem e semelhança. Nesse cenário, toda distribuição, toda separação daquilo que importa e não importa, daquilo que orienta o espírito, vai numa direção apenas e impede a multiplicidade de subir, já que é o centro de sentido, o invariante que comanda a ação, que prejulga, que determina um grupo de variações, de multiplicidades como passíveis de serem representadas ou pensadas, estando a diferença sempre a serviço de uma identidade primeira, de uma referência absoluta de inteligibilidade; 2) ou se pensa, como Leibniz, a partir das próprias variações, das multiplicidades em sua capacidade de gerar sentido independentemente do ponto fixo absoluto, pois, neste caso, é a própria variação que produz a semelhança, a identidade, é a própria diferença que instaura pontos de paradas como movimentos infinitamente pequenos, que encontra momentos de fixidez e invariâncias relativas. Nesse horizonte, o fundamento, os centros, os invariantes não são primeiros, não são referências sem as quais nenhum sentido seria possível, ao contrário, todo ponto, todo termo é secundário, produto ou efeito de uma distribuição, de um campo em variação, de uma experiência real (não possível) das diferenças. Quando Leibniz começa ele sempre adia o começo, explora um campo de multiplicidades diversas (o conjunto de mônadas, as micro-percepções, as gradações nuançadas das ideias no entendimento, etc.), pluraliza os pontos de vista, faz variar as relações, as expressões entre eles e transfere a origem para o plano icnográfico, para o ponto ao infinito como coleção de todos os pontos de referência, de todas as cenografias, não como a referência absoluta. Leibniz – ao criticar o método cartesiano, que se apoia na necessidade do invariante absoluto para pensar as variações – compõe justamente uma das grandes tentativas de produzir um pensamento que se recusa a julgar a multiplicidade ou a diferença em nome da identidade primeira, de um ponto fixo absoluto, de um limite do pensável ou da experiência. Sendo assim, no espírito da filosofia de Leibniz, esse trabalho busca desenhar a rede, o plano, as distribuições do mundo leibniziano, ou melhor, ele busca anunciar a multiplicidade liberada do primado do ponto fixo segundo os traços das variações leibnizianas.