Análise de relatos de usuários de clonazepam no estado do Rio de Janeiro: um estudo exploratório.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Marca, Renata Gomes da Costa de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/4361
Resumo: Segundo o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), da ANVISA, o clonazepam foi o psicotrópico mais consumido em 21 dos 27 estados brasileiros, em 2009, subindo para 22, em 2010, e para 24, em 2011. Considerando o sucesso de vendas desse medicamento no Brasil, buscou-se, de forma geral, averiguar o que esse fenômeno social indicaria sobre o contexto sociocultural vigente e o lugar assumido pelos ansiolíticos na cultura contemporânea. Para tal reflexão, utilizou-se como escopo teórico a antropologia dos medicamentos, demonstrando que o remédio, para além da química, é objeto social, símbolo, representação e dispositivo. Isso faz com que o medicamento enquanto fato social possa encarnar inúmeros sentidos e seguir trajetórias diversificadas, de acordo com o contexto no qual se insere. Com o objetivo de investigar os sentidos atribuídos ao clonazepam, desenvolveu-se um estudo exploratório qualitativo, enfocando a visão dos consumidores sobre suas experiências em relação ao uso dessa substância. Para isso, foram realizadas 13 entrevistas semiestruturadas, com usuários de longo termo (mais de um ano de uso), residentes no estado do Rio de Janeiro, abordando-se temas como ingesta, motivos para o uso, formas de gestão e manejo da substância, expectativas, efeitos desejados e indesejados, dentre outros. As entrevistas foram transcritas e os relatos analisados, formulando-se eixos analíticos, que congregaram temáticas específicas abordadas pelos participantes, possibilitando a apreensão dos múltiplos sentidos elaborados por eles. Logo de início, foram identificadas diferentes acepções sobre o clonazepam (medicamento, droga, tarja preta , entre outros). Os motivos para o uso variaram desde transtornos específicos até estados difusos como tensão e nervoso, às vezes marcados por fatores desencadeantes, tais como circunstâncias da vida familiar ou social. As trajetórias de uso mostraram configurações distintas, com o clonazepam sendo tratado como central para uns e acessório para outros, deslizando por diferentes posições, dependendo do momento de vida experienciado. As formas de gerir as doses foram desde a aceitação imediata das recomendações médicas até a prática da automedicação, passando por formas mistas de administração, inclusive das dosagens. A relação com essa substância apareceu marcada por distintas racionalidades na avaliação risco-benefício e pela ambiguidade sobre a quem se deveria atribuir a responsabilidade a determinadas ações realizadas sob a ingesta do medicamento: aos próprios usuários ou ao efeito químico do benzodiazepínico? Observou-se também o quanto o clonazepam pode influenciar na percepção que o usuário tem de si e que a ambivalência parece ser um sentimento que atravessa todos os eixos analíticos, sendo mais drasticamente observada na temática da dependência, recorrente nos relatos. Os sentidos a que se teve acesso são heterogêneos e variados, podendo ser captados apenas parcialmente, dado o caráter multifacetado do fenômeno social do clonazepam e da complexa dinâmica das trajetórias de uso.