A idiota da primeira infância: Forças que operam a segmentação da vida

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Mostafa, Maria
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/19201
Resumo: Esse trabalho parte de um incômodo com a correlação entre a primeira infância, definida no Brasil como a idade que vai de zero a seis anos, e o futuro produtivo dos trabalhadores no contexto neoliberal de responsabilização dos indivíduos pelo seu “sucesso”. A primeira infância vem sendo promovida por diferentes atores da área social como organizações da sociedade civil, governos e organismos multilaterais, com base em uma compreensão, elaborada em diálogo com as neurociências e com a ideia de capital humano, de que nessa idade é possível potencializar o desenvolvimento do cérebro de forma que sejam prevenidos danos. De acordo com os defensores dessa perspectiva, os maiores danos advêm da pobreza e, investindo no capital humano nos primeiros momentos da vida, as crianças conseguiriam romper o “ciclo da pobreza” em que se encontram. Esta pesquisa investiga a governamentalidade da primeira infância de forma a dar visibilidade às mecânicas que operam a segmentação e a conformação deste campo, no qual são formulados discursos de sua prioridade e políticas públicas que têm o controle das famílias pobres como alvo. A partir do personagem conceitual do idiota, formulado por Deleuze com base na obra de Dostoiévski, colocamos pausas e dúvidas às certezas e urgências deste campo, analisando discursos de diferentes atores, tais como a revista The Lancet e especialistas que trazem a legitimidade do campo científico para definir etapas universais do desenvolvimento infantil e incidir na política. Da mesma forma, analisamos documentos do Programa Criança Feliz, uma política pública nacional de visitação domiciliar para famílias com crianças na primeira infância. Nas nossas análises percebemos uma tentativa de conceber a primeira infância como um atalho “cientificamente comprovado” para combater a desigualdade social. Essa concepção produz como efeito a responsabilização das mães pela pobreza das crianças e um modo de subjetivar a infância/capital-humano, tendo como foco crianças “subestimuladas” nas que haveria que investir, para um futuro cada vez mais competitivo e excludente.