Comensalidades em trânsito: os sentidos atribuídos à comida de (na) rua a partir dos escravos de ganho até os entregadores de aplicativo
Ano de defesa: | 2022 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Faculdade de Comunicação Social Brasil UERJ Programa de Pós-Graduação em Comunicação |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/22252 |
Resumo: | A pesquisa analisa a presença da comida de rua no centro do Rio de Janeiro desde o tempo do Império por meio de escravos de ganho, depois por ambulantes comercializando produtos até o exponencial crescimento de entregadores de aplicativo com a pandemia de Covid-19. Esses corpos em movimento resistem às reformas impostas pelo Poder Público, buscam brechas (DE CERTEAU, 1994), ocupam e criam espaços de comensalidade e sociabilidade na metrópole funcional (SIMMEL,1973) voltada para fluxos do capital e do trabalho. Em meio às mudanças determinadas pela globalização, à necessidade de atender às demandas de fortes grupos econômicos mundiais que perceberam que a tecnologia pode ser uma poderosa aliada, substituindo boa parte da mão de obra humana por robôs, fazendo com que sujeitos trabalhem muito, ganhem pouco e não tenham direitos sociais e trabalhistas. Essa precarização do trabalho (ANTUNES, 2020) tem várias nomenclaturas, como uberização (SLEE, 2017), pejotização, sendo apresentada positivamente pelo discurso neoliberal, como uma excelente opção para o sujeito, que pode empreender, ter o próprio negócio, mascarando as dificuldades cotidianas. O estudo identifica esse panorama pelo cenário global, por meio do filme de Ken Loach Você Não Estava Aqui, na sequência pelo recorte local, com o vídeo do motoboy paulistano Jackson Faive, ambos pela perspectiva ficcional. A pesquisa também contribui, trazendo imbricações entre o não real e o real, pela análise do movimento #BrequeDosApps e pontuais reportagens jornalísticas publicadas sobre o tema na Folha de São Paulo, entre março de 2020 e agosto de 2021. Além disso, a investigação retrata antigas e novas comensalidades no Rio de Janeiro em função da pandemia da Covid-19, que atravessou, modificou a convivência social e a relação com a comida. A metodologia da tese utiliza um processo multimetodológico inspirado no mosaico de Becker (1994), em que interações de símbolos, de sentidos, se articulam, se compõem, tendo como estrela a comida de rua. Esses corpos que ocupam o espaço urbano e nele circulam desde o Brasil colônia até à contemporaneidade têm semelhanças físicas, normalmente são negros e pardos, jovens, com pouca escolaridade e sofrem com a precarização de trabalho, exploração de mão de obra, desigualdade social. Escravos de ganho e entregadores de aplicativo têm questões em comum. Se, no Século XIX, o açoite era o instrumento de tortura de escravos e escravas, que ficavam com os corpos marcados pelo chicote quando não atendiam às determinações de seus “donos”, no século XXI a coça não é literal, mas agride da mesma forma, quando um trabalhador precisa ficar sentado em uma moto ou bicicleta por 14 horas, seis dias na semana, hipnotizado pela tecnologia e com medo de ser bloqueado pelo patrão invisível, materializado por um aplicativo, seja iFood, Rappi ou outro qualquer. |