Fanfiction: O modelo autoral da escrita de ficção de fãs de produtos da indústria do entretenimento

• Ano de defesa: 2021
• Autor(a) principal: Pires, Andressa Andrade
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Estadual de Goiás; UEG ::Coordenação de Mestrado Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias; Brasil; UEG; Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias (PPG-IELT)
• Palavras-chave em Português: Autoria; Modelo autoral; Função-autor; Fanfiction; Campo discursivo; Authorship; Autorship model; Author function; Fan fiction Discursive field.; Discursive field; CIENCIAS HUMANAS::EDUCACAO; LINGUISTICA, LETRAS E ARTES::ARTES
• Link de acesso: http://www.bdtd.ueg.br/handle/tede/597

Este trabalho tem por objetivo analisar e descrever teoricamente o modelo autoral específico desenvolvido em torno da prática de escrita das fanfictions, histórias ficcionais criadas por fãs com base em produtos da indústria do entretenimento e compartilhadas em comunidades de fãs online. Para tanto, a fanfiction é trabalhada como constituinte de um campo discursivo particular, aqui denominado fanwriting. Os limites de tal campo discursivo são traçados a partir de categoriais provenientes da teoria dos campos sociais de Pierre Bourdieu e de sua adaptação aos estudos discursivos, promovida por Dominique Maingueneau. A partir dessa delimitação, para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se o método netnográfico, constituído por um período de observação participativa em campo de pesquisa digital, com posterior análise dos dados coletados, acompanhada de elaboração teórica pertinente. O campo de pesquisa selecionado foi o Nyah!Fanfiction, a segunda maior plataforma brasileira dedicada à publicação de fanfictions. Além dele, utilizaram-se como fontes secundárias discussões observadas em páginas das redes sociais Twitter e Facebook. Para orientar as análises, foram utilizadas categorias oriundas da proposta de Michel Foucault, que considera a função-autor como uma função essencialmente discursiva. Desse modo, a argumentação orienta-se em torno das categorias de atribuição autoral, apropriação autoral dos discursos, construção da figura autoral e posição social do autor. As análises demonstraram que o campo da fanwriting é marcado por um modelo cultural e econômico característico, fundado na cultura participativa, inicialmente descrita por Henry Jenkins, e na economia da dádiva, discutida por Giuseppe Cocco e Gilvan Vilarim, entre outros. Essa leitura permite concluir que o autor de fanfiction não corresponde exatamente a um indivíduo, mas é uma função discursiva de construção essencialmente colaborativa, pertinente ao modelo cultural e econômico vivenciado nas comunidades de fãs. Nesse cenário, o processo autoral é caracterizado por sua natureza aberta e coletiva, e pelas formas como é compartilhado com a comunidade, que contribui direta e indiretamente sobre os textos através de diversos mecanismos, alguns dos quais só podem ser verificados no campo da fanwriting, devido à natureza das relações sociais ocorridas em seu interior. O modelo autoral da fanwriting é marcado, portanto, por complexas operações discursivas que, em última instância, permitem que os fãs escritores superem o aparente conflito existente entre o empréstimo que fazem dos elementos das obras de referência e as noções correntes de originalidade, criatividade e propriedade intelectual.