Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2022 |
Autor(a) principal: |
Alencar, Olga Maria De |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Estadual do Ceará
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Link de acesso: |
https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=107846
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Resumo: |
Introdução: A presente tese é um agenciamento coletivo de desejo produzido durante nossa itinerância, enquanto trabalhadoras da saúde atuantes nos territórios da Atenção Básica à Saúde (ABS). Configura-se como um movimento de territorialidades entre nossas vivências no âmbito da assistência, da gestão e da formação em saúde, articulando saberes científicos e populares. No Brasil, a ABS tem como estratégia organizativa a integração das ações, fundamentada nos princípios do Sistema Único de Saúde, enfatizando-se o trabalho em equipe, a territorializacão e a corresponsabilidade sanitária. O trabalho nos serviços da ABS é considerado de grande complexidade, em que atuam diversas categorias profissionais, de forma a desenvolver um trabalho colaborativo e coletivo, tendo a Agente Comunitário de Saúde (ACS) como fundamental, uma vez que atuam como membro da Equipe de Saúde da Família (ESF), em posição singular, por exercer a função comunicativa entre o saber científico e o popular. Motivadas por infinitas inquietações em nossa prática clínica nasce, com efeito, o desejo de produzir conhecimento sobre a profissão Agente Comunitário de Saúde, dada sua presença em nossa história pessoal e profissional, bem como sua relevância social para o fortalecimento da ABS. A profissão ACS foi criada exclusivamente para atuação nos territórios de prática da Atenção ABS e vem, ao longo de sua historicidade, consolidando-se como agentes sociais de grande relevância para o trabalho na saúde. A relevância deste estudo pauta-se, também, devido ao fato de as ACS serem uma das profissões mais recentes e por ter representação significativa no quantitativo dos trabalhadores de saúde, expressando, na atualidade, a maior categoria de trabalhadores do Sistema Único de Saúde. Esta pesquisa tem como suporte as concepções filosóficas, teóricas-metodológicas de autores que dialogam sobre cartografia, micropolítica, o trabalho vivo em ato. Objetivo: cartografar a produção política e sócio-histórica das práticas das ACS. Método: Trata-se de estudo com abordagem qualitativa e se insere na pesquisa-intervenção, que pretende cartografar as singularidades da realidade, da produção no mundo vivo das ACS com sentidos, significados, sonhos, desejos e atitudes, em constante processo de singularização. A cartografia propõe uma reversão metodológica, costumeiro dos métodos tradicionais, que traça um caminho bem definido para alcançar objetivos pré-fixados (meta-hódos). Para produção dos dados, utilizamos uma mistura de métodos e técnicas. O cenário da pesquisa foi composto pelos municípios de Aiuaba e Tauá da região dos Inhamuns, que compõem a 14ª Regional de Saúde do Ceará. Participaram da pesquisa 80 ACS, sendo 77 mulheres e três do sexo masculino. Os dados foram organizados em narrativas e, para desvelamento, usamos a análise rizomática. Rizoma entendido como um sistema aberto de conexão que transita no meio social, através de agenciamentos diversos. Resultados: Os efeitos da pesquisa estão apresentados em platôs, que juntos compõem o rizoma, não são hierárquicos e foram aparecendo nos encontros em movimentos em espiral. No platô 1- Assim começa o percurso vida de ACS: veredas, atalhos, pontes e infinitas possibilidades na construção da profissão, é composto por quatro linhas, que versa sobre os desafios para ingressar no mundo do trabalho ACS; (2) Aspioneiras, Asantigas, Asnovatas e AsNovinhas: existências e reexistências no devir-ACS; (3) Quem um dia foi ACS, nunca deixa de ser: com a palavra AsAposentadas e AsDissidentes; e (4) Formação técnica e educação permanente: aprendizagens em ato e o plano da experiência. A temporalidade cronológica foi marcada pelas ACS, mediante a criação de uma categorização: ASPIONEIRAS (que ingressaram no programa entre 1989 e 1990); ASANTIGAS que ingressaram no trabalho entre 1991 e 2011; as NOVATAS (ingressaram no programa entre 2012 e 2017); ASNOVINHAS (que ingressaram no programa depois de 2017); ASAPOSENTADAS (aposentada como ACS); e ASDISSIDENTES (aquelas que saíram do programa ou estão em desvio de função). O ingresso das ACS no programa é visto como um acontecimento nas comunidades rurais e periferia das cidades, possibilitando o ingresso das mulheres no mundo do trabalho, marcado por muitas lutas, resistências e desafios, tanto pela crise social abalada pela grande seca, como pelo ingresso do modelo econômico implantado no fim da década de 1980. No segundo platô, trazemos a discussão sobre o que pode o corpo ACS, de onde emerge os corpos em devir: corpo-desejo, corpo-território, corpo-comunidade e corpo-força. Esses corpos são máquinas sociais em constante experimentação, um campo aberto povoado de intensidades, produtora de desejo com suas territorialidades: molares e moleculares. O corpo ponte surge como uma nova criação conceitual, com rachaduras e bifurcações, fazendo fugir dos territórios normativos, capturante das potências criativas, que se figura como a superfície de registro-controle. O platô Alegrias e tristezas no devir-ACS: o que dar potência e o que tira potência, é composto pelas linhas narrativas: (1) O cotidiano e suas imprevisibilidades: linhas molares e moleculares; (2) [...] Eu vejo que temos que customizar nossas práticas [...]: o instituído e o instituinte no fazer DasACS; (3) As tecnologias digitais como reinvenção do trabalho; (4) [...] a gente repete tanto, que acaba fazendo diferente[...]: mudanças no mundo do trabalho DasACS (hojeidades possíveis - misturas do ACS de antigamente e de hoje); (5) Valorização profissional e não reconhecimento social: o que temos a dizer; e (6) A enfermagem como potência da existencialidades ACS. O platô 4 foi um acontecimento da tese, versa sobre o atravessamento da pandemia da COVID-19, durante a coleta de dados e nossas reinvenções no campo da pesquisa, bem como nosso posicionamento ético e político frente ao caos. Conclusão: Os sujeitos da pesquisa enunciam grandes diferenças entre o início do programa e o momento atual. Percebemos nos discursos a criação de temporalidades cronológica entre ser pioneira e novata, produzindo rachaduras nas relações de poder no interior da profissão. O processo histórico da formação social da profissão ACS é marcado pelo modelo econômico neoliberal, assim como os marcadores sociais da diferença de gênero, raça e classe social são indutivos para o ingresso na profissão. Tornar-se ACS descortinou-se como uma linha de fuga para sair da domesticação e do assujeitamento social dos corpos femininos naturalizados pela dominação masculina. O trabalho vivo em ato das ACS é um agenciamento coletivo de desejo, que acontece no entremeio das profissões da saúde, com potencialidades para promoção da grande saúde, mediante as ações criativas e inventivas de promoção da saúde, educação em saúde e vigilância em saúde, mediatizado pelos saberes sociais circulantes. Palavras-chave: Cartografia. Agente Comunitário de Saúde. Saúde Coletiva. Política Pública. Corpo. |