"Aqui falta um degrau para o céu": rituais pós-morte, práticas devocionais e o imaginário social na Romaria de Finados em Juazeiro do Norte-CE.

• Ano de defesa: 2024
• Autor(a) principal: Alves, Jose Felipe De Lima
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Estadual do Ceará
• Link de acesso: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=117052

A pesquisa realizada para elaboração desta tese debruça o olhar sobre a Romaria de Finados que tem início na última semana de outubro e culmina no dia 02 de novembro, na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará. As romarias têm como principal elemento a imagem do Padre Cícero, que surge como protagonista do evento e para quem são voltadas as homenagens e as práticas devocionais, que emergem na memória, por meio da lembrança, da saudade, da gratidão e da interseção. O Dia de Finados é projetado a partir de um espaço e tempo de memória, a memória é antes de tudo uma questão de emoção, de sentimento e de afetividade, que produzem nos indivíduos a obrigação de realização de homenagens e oferendas para o ente querido que morreu, a partir de rituais elaborados pela coletividade. A pesquisa permitiu uma compreensão sobre as representações da morte e da alma concebidas pelos romeiros e devotos, a dinâmica social e cultural dos rituais pós-morte e as práticas simbólicas que projetam o imaginário social da romaria de finados. Aborda também o processo de ressignificação do ritual no contexto da pandemia da Covid-19 e a relação dos devotos com a morte diante desse contexto. A pesquisa se constitui a partir de um estudo qualitativo que buscou analisar as questões subjetivas e os processos que envolvem os indivíduos em suas práticas rituais que acontecem nos espaços sagrados de Juazeiro do Norte (Horto, Igrejas, túmulo, museus e outros espaços que formam essa sacralidade). As reflexões e interpretações são produtos do conjunto operacional posto em prática no decorrer do trabalho de campo sobre as interações vivenciadas e sobre os dados narrativos textuais e visuais produzidos. A imersão no campo foi necessária para a produção dos dados por meio da etnografia, uma vez que a escrita etnográfica requer uma presença continuada no campo. A realização da pesquisa permitiu compreendermos que após a morte do padre Cícero ocorrida em 20 de julho de 1934, o lugar que era o mais visitado até então, a casa do padrinho, dá lugar a sua sepultura. É a partir desse momento que o túmulo adquire uma centralidade durante as romarias, bem como a realização das práticas naquele espaço. O túmulo do padre Cícero se estabelece assim, como um dos canais de comunicação dos devotos com o padrinho, seja para a realização dos seus pedidos, dos agradecimentos, do pagamento das promessas. É um espaço evocado pela memória fúnebre como elemento sagrado, para onde devem ser voltadas as homenagens no dia que é guardado aos mortos na tradição da Igreja Católica. As práticas simbólicas e devocionais cumprem os rituais pós-morte que são de realização obrigatória pelos vivos. A devoção às almas e as representações elaboradas sobre as mesmas e sobre a morte e os mortos se materializam na romaria de finados, sobretudo nas práticas que são direcionadas ao padre Cícero.