O carnaval e a vida por contrabando selvagem: a propósito da prática discursiva em Deleuze e Guattari sobre o corpo sem órgãos (CsO)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Amaral, Marcos Roberto Dos Santos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso embargado
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual do Ceará
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=105020
Resumo: Diante dos ataques fascistas sofridos pela Academia, atualmente, torna-se urgente a discussão sobre sentidos de ciência, de responsabilidades públicas e das potências da prática acadêmica frente ao imperativo ético de contribuir criativamente com os desafios das lutas sociais dos diversos grupos marginalizados. Sob esse contexto, questionamos como a prática discursiva de Deleuze e Guattari, a proporem o conceito de corpo sem órgãos (CsO), indicia um interesse em revisar alguns cânones acadêmicos delineados por sentidos conservadores que regulam, especialmente, práticas discursivas dessa esfera, na tarefa de afirmar a necessidade de tornar explícita a assunção das responsabilidades políticas do ato acadêmico. Para tanto, mobilizamos os seguintes autores e as respectivas noções com que operam a compreensão do social: Bakhtin (2015; 2014; 2011), com os conceitos de carnaval e de cultura cômica popular; Deleuze e Guattari (2012; 2010), com a noção de CsO; Latour (2000), com o conceito de “ciência em ação”, e Santos (2008), com o conceito de epistemologias do Sul, no intuito de rastrear os diversos diálogos, interesses políticos e contingências históricas que se conectam à prática acadêmica e a tornam inescapavelmente um ato ético, para além de ser também um ato cognitivo. Nosso corpus de pesquisa compõe-se a partir do capítulo/platô “6. 28 de novembro de 1947 – como criar para si um corpo sem órgãos” no livro “Mil Platôs” (DELEUZE; GUATTARI, 2012) e do tópico “I.2. O corpo sem órgãos” no livro “Anti-Édipo” (DELEUZE; GUATTARI, 2010). Para operacionalizar a análise, recorremos à posição de Bakhtin (2014), dentro do escopo teórico-metodológico, do que o pensador chama de Estética Geral, sobre a interconstitutividade entre o tema da discussão e a forma de organização das especificidades da composição discursiva (por isso, também, um ato estético), com o intuito de discutir sobre a organização composicional do discurso de Deleuze e Guattari, no caso, sobre o conceito de CsO, refratar vontades de transformação das vivências acadêmicas orientadas para a afirmação de sensações e sentidos de legitimação de signos/sujeitos/práticas marginalizados historicamente. A partir disso, metodologicamente, procedemos a análise, com base na orientação bakhtiniana, procurando responder quais são as especificidades da organização da materialidade discursiva em relação a outras; quais práticas sociais estão inscritas nela e como entram em relação; e quais os pontos de vista característicos dessas práticas e de que forma eles se orientam na relação dessas práticas. Enfim, como resultado geral dessa análise, observamos que as peculiaridades dessa prática discursiva acadêmico-filosófica de Deleuze e Guattari sobre o CsO, ao rearranjar sua relação com o não-acadêmico, sobretudo com o marginalizado pelo poder hegemônico, carnavalizam relações de sentido conservadoras que policiam atos que fogem da lógica colonizadora fascista das ideologias do capitalismo, contrabandeando, desta feita, experimentações éticas, estéticas e cognitivas, muitas vezes, interditadas por interesses e instituições reacionárias dentro e fora da esfera acadêmica.