Habitar entre fronteiras: experiências de trabalhadoras paraguaias na construção de lar(es) entre Ciudad del este e foz do Iguaçu

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Magalhães, Lina Paula Machado
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Lar
Link de acesso: https://repositorio.udesc.br/handle/UDESC/20342
Resumo: Esta tese analisa as práticas cotidianas de habitar das mulheres paraguaias transfronteiriças que residem e trabalham entre Ciudad del Este (Paraguai) e Foz do Iguaçu (Brasil), território que compõe a tríplice-fronteira do Paraná, uma das fronteiras mais movimentadas do Brasil e da América do Sul. Observa, concretamente, como as mulheres habitam esse território particular, como constroem lares através das fronteiras nacionais, quais sentidos atribuem a estes espaços e a si mesmas e, ainda, quais são as relações de gênero que neles operam. Esta pesquisa é resultado do trabalho etnográfico – feminista e multisituado – estruturado a partir do acompanhamento das trajetórias das mulheres e da reconstrução de suas histórias de vida entre as fronteiras do Paraguai, do Brasil, da Argentina e da Espanha. O trabalho de campo foi realizado, primeiro, entre Ciudad del Este e Foz do Iguaçu, entre os meses de junho e agosto de 2022 e, mais tarde, entre as cidades espanholas de Granada, Madrid e Barcelona, no período entre setembro de 2022 a março de 2023. Mais que ressaltar a dicotomia entre os lares transfronteiriços e transnacionais, esta pesquisa revelou a configuração de uma estratégia de habitar (trans)fronteiriço-nacional, em que as mulheres sorteiam constantemente as escalas geográficas de acordo com a vigência dos sistemas de desigualdade de gênero que operam em cada território e entre os territórios, com o momento do seu ciclo vital, com o contexto socioeconômico individual e coletivo, e com a possibilidade de acesso a direitos. Atravessar fronteiras, curtas ou longas, está muito presente no habitar de nossas interlocutoras: tanto como dimensão imaginária, como possibilidade real e concreta de atravessamento. Comprovou-se a hipótese de que o mandato feminino do cuidado assume um papel central nos sistemas transfronteiriços de desigualdade de gênero, funcionando como elemento impulsor das mobilidades transfronteiriças e transnacionais femininas, como articulador das relações sociais e territórios entre as fronteiras e, por fim, como condicionante de suas formas de habitar e pertencer, isto é, suas formas de ser, finalmente. Para chegar a estas considerações, a presente tese se nutriu das perspectivas teóricas do transnacionalismo; dos estudos de gênero, fronteira e migração; assim como dos estudos da geografia crítica do lar. A utilização do lar como conceito e unidade analítica privilegiada permitiu questionar a hegemonia dos espaços públicos e produtivos no estudo dos fenômenos sociais, superar a dicotomia público-privado, analisar as relações de gênero e de poder, incluir as diversas experiências e espacialidades que conformam a mobilidade contemporânea, e visibilizar a relação cotidiana entre as habitantes e o lugar de habitar. Finalmente, a pesquisa se situa em um dos principais debates atuais, interpelada pelas novas formas de habitar um mundo em movimento e um mundo onde o movimento vem se constituindo cada vez mais como resposta, recurso, resistência e esperança diante de fenômenos como guerras, crises climáticas e acentuação das desigualdades e violências, entre elas, as de gênero. Para os/as que vivem [vivemos] nas bordas, nas margens da sociedade colonial capitalista-patriarcal, é preciso “ser cruce de caminos”, como nos lembra Gloria Anzaldúa.