Corpos enforcados, destroçados e desaparecidos: violência contra jovens negros em Salvador

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Cavalcante, Andaraí Ramos lattes
Orientador(a): Silva, Julie Sarah Lourau Alves da lattes
Banca de defesa: Carvalho, Inaiá Maria Moreira de lattes, Calazans, Márcia Esteves, Castro, Mary Garcia, Malomalo, Basilete, Conceição, Fernando
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Católica do Salvador
Programa de Pós-Graduação: Políticas Sociais e Cidadania
Departamento: Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://ri.ucsal.br/handle/prefix/1723
Resumo: Esta tese teve como objeto de estudo o nexo entre o racismo e as formas de concretização das manifestações de violências contra jovens negros no Brasil, resultante de uma construção histórica do racismo em moldes estruturais, marcante nas relações sociais nesta sociedade e estruturante no nosso país. Por que os jovens negros são vitimizados das mais diversas formas, em decorrência de um conjunto de ações políticas que vão dando origem a violações que têm ou podem ter como desfecho final sua morte, em uma perspectiva genocida? A presente tese, elaborada numa perspectiva qualitativa, teve como questão inicial interrogar: por que o jovem negro é vitimizado em dois tipos de violência, concretizadas aparentemente de modos diferentes: os assassinatos decorrentes de ações policiais militares, enquanto operadores do sistema de segurança pública, e os linchamentos praticados pela população? Desta forma, o objetivo foi a compreensão de como esse racismo estrutura as manifestações de violência no país a partir da análise de casos de assassinatos de jovens negros decorrentes de ações de policiais militares e de linchamentos por populares, na cidade de Salvador, Bahia. O estudo empírico foi realizado a partir de casos identificados e noticiados pelas mídias e redes sociais, entre 2012 a 2017, após uma década de implementação das políticas afirmativas no Brasil. Para tanto, foi realizada “pesquisa social qualitativa e interpretativa”, porque esta tomou como referência os mais diversos procedimentos metodológicos das ciências sociais. Foram incorporadas contribuições teóricas e estudos sobre o tema, além de documentos, políticas públicas e normas produzidas no âmbito do Estado e propostas e experiências de lutas dos movimentos negros e organizações sociais de combate à violência contra os jovens negros. A técnica de investigação são narrativas episódicas de história de vida, com a utilização da entrevista semiestruturada. Os sujeitos entrevistados para execução da pesquisa foram diferenciados, de acordo com os campos empíricos, a fim de atingir os propósitos da tese. Compuseram quatro grupos de entrevistados: familiares dos jovens assassinatos; familiares, vizinhos e amigos e conhecidos nos casos de linchamento; membros e/ou representantes de instituições públicas e instâncias dos poderes públicos e integrantes dos movimentos sociais negros. Os dados foram analisados a partir de uma matriz constrativa das narrativas episódicas de histórias de vidas em ambos os casos. A partir da análise e interpretação dos dados, obtivemos uma maior e melhor compreensão do tema, o que nos possibilitou evidenciar as semelhanças e diferenças na abordagem entre os interlocutores, tanto nos casos violência policiais como nos casos de linchamentos. Registramos, ainda, que o racismo tem contribuído cotidianamente para permanências das ocorrências de violências na contemporaneidade, atingindo particularmente e de forma mortal os corpos negros, em decorrência da concretização de um Estado penal policial forte e de um sistema de justiça criminal implacável. Sendo possível constatar não só um silenciamento, mas também indiferença, de modo geral, por parte da sociedade em relação aos altos números de mortes de jovens negros. Apesar do silenciamento e indiferença foram identificados também várias formas de protestos, com destaque para os movimentos das mães de vítimas da violência do estado. Em Salvador, chamou a atenção os protestos nos bairros feitos por moradores, assim como os grupos organizados de poetas nos bairros periféricos e as pichações. É a arte sendo utilizada como mobilizador, como forma de denúncia do racismo, da violência racial que tem como alvos principais os corpos negros.