[pt] A ONU E A OMS NO DIVÃ: O MOVIMENTO DE SECURITIZAÇÃO DO TRAUMA EM PROCESSOS DE RECONSTRUÇÃO DE ESTADOS PÓS-CONFLITO

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: RENATA BARBOSA FERREIRA
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: MAXWELL
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=17458&idi=1
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?strSecao=resultado&nrSeq=17458&idi=2
http://doi.org/10.17771/PUCRio.acad.17458
Resumo: [pt] Essa tese tem por finalidade analisar o movimento de securitização do trauma promovido pela Organização das Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde dentro de processos de reconstrução de Estados em cenários de pósconflito étnico e religioso. Nosso argumento é o de que esse movimento se desenvolve de modo a interpretar o bem estar psicológico dos indivíduos sobreviventes como uma prioridade e o trauma como uma ameaça à consolidação de uma paz auto-sustentada nesses cenários. Nesses termos, o trauma é interpretado como uma doença mental que caracteriza os indivíduos sobreviventes como sujeitos vulneráveis e com dificuldades de administração de si mesmos e de reorganização de suas vidas. Essa condição demandaria a interferência dessas Organizações para ajudá-los a exercer o controle sobre suas emoções e a recuperar sua condição de cidadãos saudáveis e aptos ao exercício de sua cidadania. Essa interferência tem sido realizada em meio às diversas atividades de reconstrução de Estados voltadas para a promoção da reconciliação social e implementada por meio de programas de psicoterapia social que visam o tratamento e a cura dos traumas. Em termos teóricos, observamos a importância do estudo de práticas discursivas em segurança através de uma leitura construtivista que, no entanto, busca recursos na sociologia política internacional para o entendimento mais abrangente de processos de securitização. Nosso entendimento é o de que a (in)securitização envolve não só o speech act - que enuncia uma política de exceção - como também procura englobar um arcabouço analítico maior para a compreensão desse momento de exceção que está ligado à existência de uma rede transnacional de burocracias e agentes privados que atuam na administração dessa (in)segurança. Ainda, o suporte oferecido pela sociologia política internacional nos permite entender como se desenvolve um movimento de securitização que toma o indivíduo como referente e que se consubstancia na busca de desenvolvimento de mecanismos de administração das emoções e dos comportamentos dos indivíduos para garantia de controle social em termos medicalizados. Nesse sentido, nosso argumento é o de que as sociedades ocidentais contemporâneas estão informadas por uma cultura terapêutica a qual conta com diversos atores e que integra os discursos da ONU e da OMS de modo a reforçar uma concepção de risco que interpreta os indivíduos como passivos e impotentes diante dos desafios do meio em que estão inseridos. Assim, através da metodologia da descrição crítica, procuramos demonstrar a lógica subjacente nos discursos da ONU e da OMS sobre saúde mental e trauma para apontar as contradições dentro desses discursos e entre esses discursos e as práticas psicossociais desenvolvidas nos ambientes de pós-conflito. O intuito final é o de observar que há a prevalência de uma concepção de saúde mental no discurso dessas organizações que privilegia um entendimento ocidental sobre a relação dos indivíduos com as emoções e a violência e que marginaliza ou silencia o papel dos valores culturais locais no processo de reconciliação social nessas comunidades.