"A menina abrigada não tem ninguém”: encontros narrativos sobre a violência intrafamiliar

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Bonfatti, Sofia Creato
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.sis.puc-campinas.edu.br/xmlui/handle/123456789/16669
Resumo: A violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes é um problema de saúde pública que frequentemente resulta no afastamento do lar de origem tendo como destino dramático o acolhimento institucional. Sua natureza cíclica faz com que as gerações seguintes possam ser vitimadas pela violência, perpetuação que em uma sociedade patriarcal marcada pela desigualdade de gênero pode resultar na vitimização de mulheres sob a forma de violência doméstica e de gênero na vida adulta. Levando em consideração essa intersecção de vulnerabilidades, nosso objetivo foi compreender a experiência emocional de meninas adolescentes diante de suas vivências de violência intrafamiliar. Situado no campo da pesquisa qualitativa, trata-se de um estudo psicanalítico winnicottiano que se desenvolveu ao longo de nove encontros com uma dupla de irmãs de 16 e 17 anos respectivamente, que haviam sido transferidas recentemente de um abrigo institucional para uma Casa Lar. O enquadre para os encontros foi o de Entrevistas Transicionais mediadas por Narrativas Interativas (NI), histórias fictícias que eram elaboradas pela pesquisadora à medida que os encontros se sucediam e depreendíamos os temas de conflito que estavam sendo comunicados (in)conscientemente pelas participantes. Cada entrevista foi iniciada pela apresentação da NI seguida de uma reflexão com as participantes sobre o tema veiculado pela NI. Foi elaborado um Registro Associativo Inicial (RAI) após cada encontro, de modo a produzir um primeiro registro do que se passou entre pesquisadora e participante, como o impacto contratransferencial produzido. Cada RAI fomentou a elaboração de uma Narrativa Transferencial como etapa preliminar de análise das entrevistas. Como resultado da análise interpretativa do material narrativo composto pelas NI e NT criamos/encontramos o campo de sentido afetivo/emocional !A menina abrigada não tem ninguém” que traduz dramaticamente o sofrimento emocional das participantes como desdobramento das experiências de violência intrafamiliar. Deste campo de sentidos afetivo-emocional depreendemos que o desamparo emocional das adolescentes é sempre acompanhado da desconfiança e desesperança nas relações interpessoais, além de contemplar o imaginário de que a impossibilidade de contarem com um solo sustentador é permanente em suas vidas, inclusive na adultez. Concluímos pela urgência de intervenções psicológicas acolhedoras para o sofrimento emocional de meninas adolescentes que emerge de experiências de violência intrafamiliar. Nesse sentido, destacamos a potencialidade do enquadre winnicottiano em intervenções institucionais, como aproximação lúdica e cuidadosa de populações especialmente vulneráveis a temas que engendram intenso sofrimento emocional.