Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Mora, Georges Homsi |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://repositorio.sis.puc-campinas.edu.br/xmlui/handle/123456789/17237
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Resumo: |
A literatura apócrifa cristã representa um riquíssimo depósito de tradições populares que, ao longo dos séculos, cristalizaram-se na narrativa histórica e na memória coletiva. Esses escritos não devem ser menosprezados como secundários, ou heréticos, ao contrário, são indispensáveis para uma compreensão abrangente da diversidade teológica e práticas das primeiras comunidades cristãs. Por intermédio da crítica literária, o presente estudo visa explorar a evolução ficcional do personagem João ao longo do longo período. Nos textos canônicos, ele é apresentado como o discípulo amado, "filho do trovão", e predileto de Jesus. No segundo século, emerge como um eloquente orador, exibicionista carismático, conquistador de Éfeso e apóstolo dos gentios, conhecedor dos segredos divinos que lhe foram confiados durante os momentos em que repousou sua cabeça sobre o peito do Salvador, imagem que lhe conferiu ares de imortalidade. Ele é retratado como testemunha das multifacetadas manifestações de Cristo, capaz de persuadir multidões, derrubar ídolos e manifestar grandes poderes. Nos séculos V e VI, essas tradições são recontadas, evidenciando a persistência e a adaptabilidade da devoção popular. Embora frequentemente rotuladas como falsas ou heréticas, as narrativas apócrifas mantiveram-se vivas na oralidade e na memória popular, ressurgindo periodicamente e revigorando as imagens de seus protagonistas e seus feitos. João, mais imponente, protagoniza o mais extenso texto apócrifo sobre o apóstolo, emergindo como um homem de ação, relatado nas memórias de seu discípulo Prócoro, com menos ênfase em palavras e sermões. Este corpus substancial reafirma a primazia de João como o exilado em Patmos, o vidente do Apocalipse, o guardião dos mistérios divinos. Mesmo sob o escrutínio e a resistência da Igreja oriental, a imagem do autor do Apocalipse como receptor dos mistérios eternos se consolida. Nasce João como uma espécie de guia místico. A Hagiografia é a coroação da tradição popular. Nas páginas da Legenda Áurea, observa-se a preservação e fortalecimento dessas tradições. Ancorando-se no segundo século, mas vislumbrando o medievo, esta pesquisa demonstra como a oficialidade é compelida a reconhecer narrativas que antes repudiava. Desse modo, a religião revela-se como um potente sistema linguístico, capaz de transformar realidades, subverter lógicas hierárquicas e de poder, e incessantemente criar e recriar mundos. Por fim, o apóstolo João ascende à condição de ícone tanto da Igreja quanto do povo, sintetizando atributos acumulados ao longo dos séculos, tornando-se João, o Santo. |