Mulher, mãe e louca: experiência emocional de usuárias do caps sobre o adoecimento mental

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Oliveira, Debora Ortolan Fernandes de
Orientador(a): Granato, Tania Mara Marques
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.sis.puc-campinas.edu.br/xmlui/handle/123456789/17363
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo compreender a experiência emocional de mulheresmães em tratamento em um Centro de Atenção Psicossocial III (CAPS III) sobre o processo de adoecimento mental, na perspectiva das próprias participantes. Ao considerar que a sociedade contemporânea é estruturalmente sexista, sendo as mulheres fortemente oprimidas, ao mesmo tempo em que também é heterogênea e complexa, o sexismo conforma-se diferentemente nos múltiplos contextos sociais. Interessamo-nos em refletir sobre o sofrimento feminino na intersecção com a saúde mental, devido ao nosso sentimento de urgência de uma perspectiva crítica e interseccional para pensar a saúde mental das mulheres no Brasil. O presente estudo organiza-se como pesquisa qualitativa com método psicanalítico, realizado a partir de três entrevistas transicionais individuais com cinco mulheres usuárias de um CAPS III, que foram indicadas por profissionais da equipe que as acompanha. As entrevistas transicionais, orientadas pelo conceito de manejo winnicottiano, foram estruturadas ao redor de uma pergunta norteadora – “O que você imagina que aconteceu para você estar aqui no CAPS?”, a partir da qual as participantes puderam falar livremente sobre suas histórias, e pelo uso do recurso mediador do Procedimento de Desenho-Estória com Tema, adaptado de forma a priorizar o cuidado ético de população vulnerável. O material de pesquisa constitui-se por dois tipos de produções narrativas: (a) produções imaginativas das entrevistadas e (b) Narrativas Transferenciais, nas quais a pesquisadora já apresenta uma elaboração interpretativa do que viveu nos encontros com as participantes. Em trabalho conjunto com o grupo de pesquisa, o material foi psicanaliticamente interpretado em termos de dois campos de sentido afetivo-emocional e um subcampo, que intitulamos “Há males que vem para o mal”, e seu subcampo “Sobrevivendo em solo árido”, e “E eu não sou uma mulher?”. O quadro geral sugere que essas mulheres foram repetidamente traumatizadas ao longo de suas vidas, sendo o adoecimento mental um dos traumas vivenciados. Pelo fato de que sua história de adoecimento se insere no campo da maternidade e conjugalidade no contexto de uma sociedade patriarcal, sentem-se destituídas do lugar de mulher por não atenderem às expectativas sociais em relação ao cuidado. A despeito do ideal da maternidade compartilhado, desnudam que em nosso país nem todas as maternidades são bem-vistas, embora diretamente associadas à condição de precariedade social. Concluindo, ser mulher-mãe, periférica, negra, em tratamento para saúde mental e vítima de violência no Brasil configura-se como feixe de intersecções no qual múltiplas condições de opressão operam na produção de sofrimentos, dado o seu potencial traumático desumanizador.