Estrutura funcional e conservação de assembleias de peixes de riachos na Amazônia Brasileira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Leitão, Rafael Pereira
Orientador(a): Zuanon, Jansen A. S.
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Programa de Pós-Graduação: Biologia de Água Doce e Pesca Interior - BADPI
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/11447
http://lattes.cnpq.br/1431026167939116
Resumo: Os ecossistemas da Terra estão enfrentando níveis de perturbações antropogênicas sem precedentes. As florestas tropicais, que sustentam enorme diversidade de espécies, sofrem as mais severas alterações de paisagem na atualidade. Essas florestas abrigam uma elevada proporção de espécies raras, que tendem a ser as primeiras a se extinguir em decorrência dos impactos ambientais. Diante desse cenário, quantificações precisas das respostas bióticas frente às mudanças ambientais tornam-se urgentes. Mais do que isso, é necessário desenvolver abordagens preditivas capazes de identificar as consequências da extinção de espécies para a estrutura das assembleias e para o funcionamento dos ecossistemas. Portanto, a biodiversidade deve ser investigada em suas múltiplas facetas. A avaliação da diversidade e distribuição dos atributos funcionais das espécies nas assembleias (i.e., estrutura funcional) é uma perspectiva promissora para investigar tais mudanças nos ecossistemas. Nesse contexto, o presente estudo focou em um grupo altamente vulnerável e rico em espécies: os peixes de riachos da Amazônia. Nossos principais objetivos foram: 1) determinar os mecanismos e vias pelos quais o uso da terra afeta a estrutura funcional de assembleias de peixes de riachos em áreas antropizadas do centro-leste da Amazônia; e 2) investigar as consequências da perda potencial de espécies raras na estrutura funcional de assembleias de peixes de riachos. Para alcançar o primeiro objetivo, amostramos peixes em 94 riachos, e avaliamos características do hábitat local e variáveis-chave da paisagem, como a densidade de estradas que cruzam os riachos (i.e., fragmentação fluvial), o nível de desmatamento, e a intensificação da agricultura. 141 espécies foram caracterizadas funcionalmente a partir de atributos ecomorfológicos relacionados à alimentação, locomoção, e hábitat preferencial. Observamos que múltiplos determinantes, operando em diferentes escalas espaciais, influenciam as condições físicas dos riachos e a estrutura funcional das assembleias de peixes. A remoção da mata ripária aumentou a vegetação submersa, o que levou à redução da regularidade funcional das assembleias (i.e., dominância de algumas poucas combinações de atributos funcionais). A fragmentação a montante dos pontos amostrais e o desmatamento alteraram a morfologia do canal e a estrutura do leito dos riachos, levando a mudanças na identidade funcional das assembleias. A fragmentação a jusante dos pontos amostrais reduziu a riqueza, a regularidade e a divergência funcional, sugerindo uma redução na amplitude de nichos ocupados e uma homogeneização funcional das assembleias locais. Para alcançar o segundo objetido deste estudo, amostramos 320 riachos ao longo dos principais tributários da Bacia Amzônica, e caracterizamos funcionalmente as 395 espécies de peixes amostradas. Criamos uma medida do grau de raridade das espécie (combinando abundância local, amplitude geográfica, e amplitude de hábitat) e avaliamos a contribuição de espécies raras para diferentes facetas da estrutura funcional das assembleias utilizando cenários realísticos de perda de espécies. Para aumentar o potencial de generalização dos nossos resultados, aplicamos esses procedimentos a duas outras comunidades tropicais: árvores da Guiana Francesa, e aves dos Trópicos Úmidos Astralianos. Demonstramos para os três grupos taxonômicos que espécies raras apresentam as combinações mais extremas e únicas de atributos funcionais, e detectamos impactos desproporcionais na estrutra funcional das assembleias com a potencial extinção de espécies raras. Tais resultados justificam a aplicação do princípio da precaução na conservação da biodiversidade tropical, apesar da aparente garantia promovida pela redundância funcional esperada nesses sistemas ricos em espécies. Acreditamos que este estudo fornece importantes subsídios para a melhoria da gestão e conservação da biodiversidade tropical.