O papel de mudanças hidrológicas de ordem sazonal e climática na estrutura da assembleia e história de vida de peixes na confluência dos rios Negro e Amazonas

• Ano de defesa: 2016
• Autor(a) principal: Röpke, Cristhiana Paula
• Orientador(a): Amadio, Sidinéia Aparecida
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
• Programa de Pós-Graduação: Biologia de Água Doce e Pesca Interior - BADPI
• Link de acesso: https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/11489; http://lattes.cnpq.br/5813620045238575

As variações temporais de vazão dos grandes rios têm sido sugeridas a muito tempo como uma variável chave nas características ecológicas dos sistemas aquáticos. Recentemente, o efeito combinado de desflorestamento e mudanças climáticas globais tem resultado em mudanças no padrão de pluviosidade da bacia Amazônica e, consequentemente, no padrão sazonal de vazão na porção central do rio Amazonas. Isso tem mudado significativamente a magnitude e o calendário de começo das fases do regime anual de inundação. Os efeitos dessas mudanças sobre a ecologia e biologia dos organismos aquáticas ainda são pouco conhecidos. Neste estudo nós investigamos o efeito da dinâmica sazonal e interanual do regime de inundação sobre a estrutura da assembleia e o investimento reprodutivo de algumas espécies de peixes. A partir de análises de uma série temporal de dados hidrológicos e de peixes coletados em um lago de várzea próximo à confluência dos rios Negro e Amazonas nós podemos observar que: i) a conectividade sazonal do lago com esses dois rios tem um papel importante na taxa sazonal de turnover de espécies e recolonização das populações. A diversidade beta foi alta e a comunidade foi dominanda por espécies transitórias sazonalmente no lago. Um número relativamente alto de espécies que sabidamente se alimentam de recursos na planície de inundação foram capturadas quase exclusivamente durante o período da cheia. Durante a estação seca, a assembleia de peixes foi dominada por espécies de peixes com adaptações conhecidas para condições de baixa disponibilidade de oxigênio e tolerância à alta temperatura; ii) análises da série temporal completa de 13 anos de dados mostrou que houve uma significativa e concordante mudança no regime hidrológico e estrutura da assembleia de peixes. A mudança mais intensa coincidiu com a severa seca de 2005 a qual foi seguida de anos com pulsos de inundação de alta magnitude e um adiantamento do início da estação seca. Após 2005, a assembleia de peixes apresentou uma estrutura diferente e persistente em termos taxonômicos e funcionais; iii) as análises do efeito da condição hidrológica anual sobre a reprodução mostraram que eventos extremos e sua interação com a condição corpórea das fêmeas afetaram negativamente a fecundidade produzida por elas. Fêmeas de Acestrorhynchus falcirostris, uma espécie piscívora, reduziram a fecundidade quando a condição corpórea era ruim durante anos de cheias intensas. Secas fortes, com começo adiantado e de longa duração tiveram efeito negativo na fecundidade de Psectrogaster rutiloides, e interagiram com a condição corpórea das fêmeas na fecundidade de Triportheus angulatus. O diâmetro médio dos ovócitos das fêmeas foi mais afetado pela densidade das populações e condição hidrológica que pelo tamanho do corpo e condição corpórea das fêmeas em todas as espécies. A combinação desses resultados sugere que, de modo geral, eventos extremos tem impacto negativo sobre a assembleia de peixes e sobre processos reprodutivos. Assim este estudo sugere que propostas direcionadas à conservação da biodiversidade e pesca em água doce na bacia Amazônica deveriam considerar o efeito das recentes mudanças hidrológicas que a bacia vem sofrendo, devido ao seu potencial de provocar fortes mudanças no funcionamento, estrutura e dinâmica das populações de organismos aquáticos.