José Saramago, leitor dos historiadores: tensões entre a literatura, a epistemologia histórica e o pós-modernismo em História do cerco de Lisboa

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Roque da Silva, Mateus
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://deposita.ibict.br/handle/deposita/731
Resumo: A presente dissertação dedica-se à investigação, compreensão e análise dos diálogos, em seu aspecto teórico-metodológico, que José Saramago, um declarado marxista, estabeleceu com os historiadores de seu tempo, delimitados aqui entre os anos de 1970 e 1980, ao produzir o romance História do cerco de Lisboa, originalmente publicado em 1989. Esse período, na dissonante percepção de alguns teóricos (HUTCHEON, 1991; EAGLETON, 1998; HARVEY, 2016), pode ser categorizado como pós-moderno, época em que se observa a fragmentação dos sujeitos e o descredito nas metanarrativas modernas – religiosa, política, histórica, estética, etc. (LYOTARD, 2020). Nessa mesma direção, certos críticos de José Saramago (ARNAUT, 2002; REIS, 2004; REDU, 2015) encaminham-no ao diálogo com esses pressupostos filosófico-poéticos, ao passo que, para outros (PETROV, 2014; PAPKE, 2021; SILVA, 2022), sua postura é marcadamente marxista, centrada no materialismo histórico-dialético e na perspectiva de História total. Diante dessa contenda, o presente estudo se prestará a apresentar e analisar o paradigma pós-moderno, contrastando-o, no primeiro capítulo, aos postulados favoráveis e desfavoráveis à filiação do autor português ao paradigma em questão. A partir das considerações de Petar Petrov (2014) e Vera Silva (2022), encaminharemos nossa argumentação, no segundo capítulo, para a leitura de José Saramago como leitor de Karl Marx (2011) e dos Annales, sobretudo em relação às produções de Georges Duby (1988). Nessa senda, concentraremos nossa análise na concepção de História total, central ao pensamento do filósofo alemão e seus leitores franceses, averiguando como esta se materializa esteticamente na produção poética saramaguiana de cunho histórico, especialmente em História do cerco de Lisboa. Posto isso, no terceiro capítulo, adentraremos efetivamente ao romance, evidenciando como o protagonista Raimundo Silva, revisor que torna-se, ao longo da narrativa, autor de um segundo “História do cerco de Lisboa”, mostra-se, em uma espécie de espelhamento de seu criador, produtor de uma narrativa que, a partir de uma percepção que se aproxima do paradigma indiciário de Carlo Ginzburg (1989), atenta-se às lacunas e detalhes faltantes do discurso histórico oficial, buscando alcançar, assim, uma totalidade histórica, como quer Marx (2011), anteriormente alijada da referida vertente historiográfica.