O lado não polido do mármore e granito: a produção social dos acidentes de trabalho e suas conseqüências no setor de rochas ornamentais no sul do Estado do Espírito Santo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Moulin, Maria das Graças Barbosa
Orientador(a): Minayo Gomez, Carlos
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/4397
Resumo: O estudo investiga a origem e as conseqüências sociais de acidentes de trabalho fatais e incapacitantes no setor de rochas ornamentais no sul do Estado do Espírito Santo. Esse campo de trabalho envolve atividades de extração, beneficiamento e transporte do mármore. A análise dos acidentes deu ênfase às relações técnicas e sociais que compõem os processos de trabalho, historicamente condicionados pelo contexto econômico e social. Trata-se de um processo produtivo iniciado por empresários e trabalhadores com valores provenientes do mundo rural. Foi realizado um estudo etnográfico com o intuito de se compreender: a) a cultura presente no mundo do trabalho naquela localidade, que fosse capaz de explicar a submissão dos trabalhadores a graves situações de risco; b) as significações e os valores próprios das famílias das vítimas de acidentes fatais; e c) as formas como a população pesquisada lida com as diversas implicações ocasionadas por esses acidentes. Como resultado, constata um tipo de gestão que – baseado na força bruta, no apelo à virilidade, na improvisação e em imposições autoritárias – cria as condições propícias à ocorrência de acidentes com mortes ou mutilações. A necessidade de prover a família e a valorização do trabalho com emblemas de virilidade e como via de acesso a uma vida honrada fazem com que trabalhadores, sem outra opção de subsistência nessa localidade, se sujeitem aos processos de extração e de produção de pedras ornamentais arriscados. As conseqüências sociais do acidente de trabalho são traduzidas pelo sofrimento de acidentados, de viúvas e seus familiares. A maioria deles encontra, na fé religiosa, na solidariedade da família e da comunidade e na assistência prestada pelo sindicato, ânimo e alento para se reconstituírem afetiva, simbólica e materialmente. O estudo revela ainda a omissão e o descaso dos empresários e a ausência de apoio por parte do Poder Público com relação às famílias, quando ocorrem acidentes. Também aponta mudanças importantes na postura dos trabalhadores que vão se tornando mais ativos e reivindicativos a partir da criação do sindicato dos trabalhadores, assim como na forma de agir de determinados empresários, levados pela premência de obterem a certificação de qualidade, exigida para que entrem na linha de exportação.