A medicalização do parto no Brasil a partir do estudo de manuais de obstetrícia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Nicida, Lucia Regina de Azevedo
Orientador(a): Teixeira, Luiz Antonio da Silva
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/49656
Resumo: Esta tese analisa o processo de medicalização do parto no Brasil a partir dos manuais de obstetrícia publicados entre os anos de 1980 e 2011. Sua construção foi inspirada nas reflexões sobre assistência ao parto, onde o direito da mulher sobre o seu corpo, à autonomia na escolha da via de parto e o acesso às informações estejam assegurados, permitindo-lhes exercer esses direitos de forma segura e consciente e vivendo a experiência única do parto de forma plena. Nosso objetivo é analisar os saberes e práticas relativas ao parto que têm sido difundidas por esses manuais, partindo do argumento que, dentro da complexa rede de aspectos que se co-constituem e que contribuem para a permanência de um quadro assistencial marcado por um uso excessivo e, por vezes, desnecessário de intervenções, inclui-se o estilo de pensamento que tem sido transmitido no processo de formação dos obstetras. Nesse sentido, os manuais de obstetrícia são um importante veículo de disseminação desse embasamento teórico que serve de sustentação às práticas obstétricas. Esse entendimento dialoga com trabalhos no campo da sociologia das ciências, dos quais destacamos os de Ludwick Fleck e Thomas S. Kuhn. Partimos de uma concepção mais geral de medicalização - entendida como o processo pelo qual a medicina amplia e consolida a sua área de atuação nos diversos campos da sociedade - e das diferentes formulações do conceito, concebidas por estudiosos do século XX. Discutimos aspectos relacionados ao formato, temáticas e mercado editorial relacionados aos manuais de obstetrícia. Examinamos alguns elementos que compõem a estrutura das relações objetivas desses manuais: agentes sociais e instituições, buscando as conexões e vínculos estabelecidos entre eles, identificando o tráfego intracoletivo e intercoletivo de conhecimento, que se constituiriam como coletivos de pensamento. Analisamos os diferentes sentidos atribuídos ao parto, a sua relação com a ideia de risco e a construção de modelos de assistência que pretendem garantir a segurança do processo de parturição. Esses modelos seriam uma expressão do estilo de pensamento do manual, e analisando esses modelos, construímos duas categorias de manuais: (1) "manejo ativo"(subdividida em "manejo ativo a priori" e "manejo ativo condicional" e (2) "expectante". Por fim, analisamos as estratégias de segurança: o espaço, o roteiro e as intervenções recomendadas pelos manuais de obstetrícia e as relações entre os atores que compõem a cena do parto. A tese conclui que apesar de terem sido encontradas variações significativas entre as formas de prestar o cuidado no processo de parturição, embasadas em estilos de pensamento que oscilaram entre os mais e os menos intervencionistas, todos os manuais compartilham o entendimento de que o parto é um evento tutelado pela ciência médica-obstétrica, que apesar de admitir o parto como evento "fisiológico" e "normal", essa fisiologia acaba perdendo força e visibilidade.