Medicalização e medicina de família e comunidade: memórias de um médico de favela

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Machado, Humberto Sauro Victorino
Orientador(a): Melo, Eduardo Alves
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/46193
Resumo: O fortalecimento da atenção primária é um dos grandes focos de atores e instituições do SUS no Brasil, tendo na estratégia saúde da família uma aposta de mudança do modelo tecnoassistencial. Como parte de equipes multiprofissionais com perfil generalista na APS/ESF, a medicina de família e comunidade (MFC) é a especialidade eleita por diferentes atores, cada vez mais, para atuar nesse âmbito de assistência, considerando a grande porta de entrada para o sistema de saúde. A medicalização constitui um complexo fenômeno pelo qual, na ânsia ou a partir da justificativa de proteger e cuidar, a medicina, de certa forma, atropelaria os direitos das pessoas. Esse paradoxo foi exaustivamente estudado em especialidades como a psiquiatria, a medicina preventiva e em especialidades cirúrgicas e intervencionistas, porém pouca atenção se deu à sua expressão na MFC, por se entender que essa especialidade teria uma resistência intrínseca à medicalização. Não convencido completamente dessa oposição concreta, o autor pretendeu, neste trabalho, através de sua experiência como médico de família, dissecar situações e vivências que remontem ao encontro entre a medicalização e a MFC. Para isso, partiu-se de uma abordagem inspirada na cartografia e na autoetnografia que produz e processa uma análise de memórias \201Cpessoais\201D, utilizando cenas e outros formatos de narrativas, com o objetivo de refletir sobre a medicalização na medicina de família e comunidade. A problematização do vivido evidenciou alguns elementos potencialmente medicalizantes na MFC, como a pressão assistencial, a protocolização de condutas, o (não) reconhecimento da capacidade de autodeterminação do outro (pobre) e a legitimidade-autoridade das práticas médico-sanitárias. Algumas práticas desmedicalizantes, racionalmente pensadas (enquanto intenção de prevenção quaternária) ou improvisadas (a partir da sensibilidade-intuição), apareceram com problemas e êxitos. O caminho percorrido produziu menos conclusões inequívocas do que visibilidade para linhas de força e tensões, quiçá novas interrogações.