Estudo dos perfis inflamatório e citotóxico de linfócitos T de mulheres expostas ao vírus zika durante gestação: impacto da modulação dos receptores CCR5 e CX3CR1 na resposta das células T

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Macedo, Débora Familiar Rodrigues
Orientador(a): Pinto, Luzia Maria de Oliveira
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/43248
Resumo: Em 2015-2016, o vírus zika (ZIKV) foi o agente causador de um surto importante de zika no Brasil. A maioria dos indivíduos infectados pelo ZIKV são assintomáticos e naqueles sintomáticos, a doença é em geral branda e autolimitada. Mas, existem relatos de alterações neurológicas associadas ao ZIKV, como a síndrome de GuillainBarré em adultos e a Síndrome Congênita do Zika (SCZ) em crianças nascidas de mães infectadas pelo vírus na gravidez. Considerando-se que ZIKV e DENV compartilham em média 43% de identidade de aminoácidos nas 10 regiões da poliproteína viral e que, o surto de ZIKV se deu em regiões endêmicas do DENV, vários questionamentos vêm sendo levantados. Dentre eles, se existe uma imunidade cruzada entre ZIKV e DENV e qual a consequência disso no desfecho clínico do paciente. Neste estudo, pretendemos avaliar os perfis inflamatório e citotóxico dos linfócitos T CD4+ e CD8+ de memória específicos ao ZIKV, associando a funcionalidade das células T à expressão dos receptores de quimiocinas CCR5 e CX3CR1. Para isso, vamos caracterizar a resposta dos linfócitos T de memória de mulheres que foram infectadas pelo ZIKV durante a gravidez em 2016-2017 na região Metropolitana II do RJ. As amostras de sangue foram coletadas dois ou três anos após a fase aguda da doença (2018-2019), para o estudo da memória imunológica ao ZIKV. Vinte e duas mães foram avaliadas e comparadas de acordo com o desfecho clínico de seus filhos: o 1° grupo foi constituído de mães que tem filhos assintomáticos (n=12) e o 2°grupo, mães com filhos que apresentam alterações características da SCZ (n=10). Utilizamos um conjunto de peptídeos derivados do ZIKV (megapools de ZIKV) restrito a ligação aos HLAs de classe I e II, portanto, indutores de resposta das células T CD8+ e CD4+ Esses megapools são representativos das 10 regiões da poliproteína viral consideradas imunogênicas e, foram definidos segundo percentuais de identidade de aminoácidos entre DENV e ZIKV. As PBMCs foram estimuladas in vitro com os megapools de ZIKV e analisadas no ensaio de EliSpot para detecção de células produtoras de IFN-\03B3, detecção de IFN-\03B3 intracelular e avaliação da expressão da proteína de grânulo CD107a e dos receptores de quimiocinas CCR5 e CX3CR1 por citometria de fluxo. Por fim, ensaios de bloqueio dos CCR5 e CX3CR1 foram realizadas na tentativa de entender o papel desses receptores na funcionalidade das células. Nossos resultados indicam que independente do desfecho clínico da criança, mais de 60% das mulheres apresentam anticorpos IgG anti-DENV e IgG anti-ZIKV. Em relação a funcionalidade das células, é possível observar que mães de crianças assintomáticas apresentam maior tendência a magnitude de produção de IFN-\0263, assim como de frequência de respondedores comparado as mães de bebês com SCZ. No intuito de distinguir as respostas das CD4 e CD8, realizamos ensaio de citometria de fluxo. Observamos que os megapools de ZIKV nas células das mulheres com filhos assintomáticos, tendem a: induzir maior resposta das células T CD4+IFN-\03B3+, menor resposta CD4+CD107a+, maior resposta CD4+CCR5+ e resposta similar das CD4+CX3CR1+ comparado as mães com filhos com SCZ Já nas células T CD8+, os megapools de ZIKV induzem uma resposta similar das células T CD8+IFN-\03B3+ e CD8+CX3CR1+ específicas entre os grupos de mães, com uma frequência de respondedores muito baixa. Mas, a resposta das células T CD8+CD107a+ e das CD8+CCR5+ específicas foi maior nas mães com filhos com SCZ comparado àquelas com filhos assintomáticos. No geral, as células T CD4+ e CD8+ produtores de IFN-\03B3 e que expressam CD107a são predominantemente CCR5+CX3CR1+ nos dois grupos de mães. Nos ensaios in vitro, parece que o bloqueio da expressão de CCR5 ou CX3CR1 não altera a produção de IFN-\03B3 nas células expostas ao ZIKV. Mas, os bloqueios interferem na atividade citotóxica das células TCD8+ quando expostas ao ZIKV e nas células T CD4+ quando expostas aos megapools de ZIKV. Assim, concluímos a imunidade ao DENV não teve uma influência importante no desfecho clínico de filhos expostos via transmissão vertical. Ainda, que um perfil mais inflamatório e menos citotóxico das células T CD4+ das mães pode ter influenciado no desfecho clínico mais brando de seus filhos. Mas, parece que a resposta inflamatória e citotóxica das células T CD8+ tem menos impacto na doença e no desfecho clínico dos bebês. Mais experimentos devem ser realizados sobre o efeito do bloqueio de CCR5 e CX3CR1 na funcionalidade das células T.