Ética e estética do cuidado nos primórdios da vida: reinventando a prática cotidiana com bebês numa unidade de acolhimento

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Frid, Solange
Orientador(a): Minayo, Maria Cecilia de Souza
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/44497
Resumo: Esta tese é resultado de uma pesquisa-intervenção realizada na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, em uma Unidade de Acolhimento para bebês entre 0 e 36 meses. Nesse contexto, analisei a importância de uma ética do cuidado em relação à primeiríssima infância, o que significou incluir no estudo o profissional cuidador e a instituição que une os atores, bebês e adultos. Também investiguei a qualidade do cuidado ofertado aos bebês no berçário desse abrigo municipal, exatamente no momento em que os gestores desejavam realizar uma mudança estrutural na dinâmica do trabalho das educadoras sociais. O estudo constou de três passos metodológicos e práticos. Em primeiro lugar, a modificação paradigmática do modo de cuidar foi sendo construída ao longo do tempo, tendo amparo num coletivo denominado Roda de Conversa, quando se passou a falar sobre os problemas enfrentados no cotidiano, especialmente sobre a relação com os bebês e os familiares. As comunicações foram convergindo no sentido de que o bebê precisava de uma relação de referência que lhe assegurasse uma atenção recíproca e amorosa. A partir da interlocução entre a psicanálise e a abordagem Pikler, foi discutido no trabalho um modelo de intervenção que visava favorecer tanto a constituição psíquica dos bebês quanto o cuidado com o cuidador Para isso, foi ofertado às educadoras, nesse primeiro momento, o referido espaço de fala onde se processavam as angústias que a atividade de cuidar suscita e onde havia uma mútua apropriação das sutilezas da função que elas exercem. Num segundo momento, a pesquisa passou a ser desenvolvida no berçário da instituição e focou-se, de um lado, na observação das relações cotidianas de cuidado entre adultos e crianças, sendo inspirada no método de observação da psicanalista Esther Bick; de outro, nas narrativas das educadoras que foram selecionadas para serem acompanhadas em profundidade e que participaram de uma conversa com a pesquisadora, ao final de cada observação. Essa última atividade se fundamentou na construção clínica da intervenção a tempo e da abordagem da psicossociologia francesa. Num terceiro momento, a equipe técnica foi entrevistada, de forma aberta e sem um instrumento de condução da fala, sobre as relações internas e externas de cada uma. O objetivo foi compreender de que modo essas pessoas, responsáveis institucionais, viam a dinâmica de seu trabalho e a forma como o exerciam, considerando que as dimensões sociais, individuais, subjetivas, intersubjetivas, conscientes e inconscientes, imaginárias e simbólicas nas instituições produzem efeitos na qualidade do que é produzido. Dessa forma, estão no centro da investigação as relações intersubjetivas e seus efeitos nas relações de cuidado, tendo como eixo teórico os trabalhos desenvolvidos por B. Golse e D. Stern sobre os primórdios da subjetivação, assim como o modelo metapsicológico proposto por Winnicott sobre as relações iniciais cuidador/bebê, a teoria psicanalítica sobre os processos intersubjetivos/grupais, a psicodinâmica do trabalho e a abordagem psicossociológica francesa Considerando as funções do cuidado como um eixo primordial para o processo de subjetivação dos bebês e para o desenvolvimento da capacidade da educadora de estabelecer vínculos de qualidade com os pequenos, o trabalho destacou as dimensões sensíveis do bebê e do adulto, e a necessidade de as instituições considerarem esses elementos invisíveis como veículo para o processo de humanização de todos. Concluo que esse estudo corrobora para o entendimento de que, para um trabalho de qualidade no âmbito do cuidado com bebês aconteça é fundamental que o cuidador tenha a capacidade de se autorregular emocionalmente e de cuidar de si. Para isso, exemplarmente, nesse tempo da pesquisa, as educadoras e a equipe técnica produziram um espaço para a invenção de si e do mundo ao qual pertencem.