O cérebro progressivo de Domingos Guedes Cabral em funções do cérebro (1876)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Monteiro, Ricardo Esteves
Orientador(a): Waizbort, Ricardo Francisco
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/20473
Resumo: Nosso trabalho faz uma análise da tese de doutoramento Funções do Cérebro, censurada pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1875, mas publicada no ano seguinte pelo baiano Domingos Guedes Cabral. O trabalho tenta num primeiro plano construir uma revisão do que foi produzido sobre o personagem. Militante prórepublicano e filho de jornalista também ativo no cenário político nacional, Guedes Cabral manteve, antes e durante sua carreira médica, uma postura crítica diante da sua realidade oitocentista. Essa posição foi reafirmada através da adoção e divulgação de determinadas ideias contrastantes aos valores compartilhados pela maioria da sociedade na época e pela agenda política do Império. A principal discordância do médico seria com a religião católica. A ausência de uma intervenção divina na origem da espécie humana, como defende Guedes Cabral, por exemplo, é uma das propostas que feria gravemente algumas dos dogmas científicos e religiosos impostos nesse período. Essa perspectiva de origem transformista dos homens foi apropriada com o título de evolucionismo. A historiografia vem priorizando a análise deste aspecto no livro de Guedes Cabral. O médico baiano, um dos primeiros a citar Darwin no Brasil, tenta pensar a espécie humana numa perspectiva rotulada de materialista. A alma não existiria e tudo que somos foi animalizado. O homem seria somente outra espécie no grupo dos primatas, um tipo mais desenvolvido, porém. Deus não poderia ser considerado no novo paradigma da ciência positiva. Neste sentido chamaremos a atenção para a presença de uma corrente científica e médica contrária à de Guedes Cabral. Essa corrente predominante do criacionismo cuvieriano tinha representantes imponentes em centros de ensino e pesquisa nacionais. Entendemos ser importante conhecer seus opositores para entender melhor o espaço de recepção do evolucionismo e do darwinismo no Brasil. De acordo com Funções do Cérebro, os indivíduos, guiados por fenômenos fisiológicos cerebrais, têm seus hábitos superiores - dentre elas a moralidade moldados pelas experiências imprimidas diariamente nos órgãos sensoriais. O progresso do homem viria com o desenvolvimento intelectual, isso justificaria uma preocupação de Guedes Cabral com a superioridade mental dos brancos civilizados europeus em relação aos habitantes dos trópicos. Outro objetivo nosso é analisar o despertar do médico para esse tipo de estudo. Elucidaremos suas disciplinas e professores na faculdade, além da publicação de outras teses e artigos científicos da época. Apropriando-nos do conceito sujeito cerebral , a dissertação expõe a base técnica e teórica de Guedes Cabral no que se refere à redução do ser humano ao funcionamento do órgão encefálico. Estes seriam os estudos nas áreas da fisiologia e evolução cerebral, uma demanda institucional, acadêmica e filosófica da época. O médico conhece o cérebro, por isso também pode responder as diversas questões sobre o comportamento humano, dentre elas, os atos transgressores e descontrolados. O crime para o médico seria uma disfunção cerebral que acometeria com mais facilidade indivíduos embrutecidos ou fracos intelectualmente. Para Guedes Cabral, esses sujeitos criminosos deveriam ser tratados numa espécie de aperfeiçoamento cerebral e não presos. Caberia ao médico, pois, conduzir o tratamento desses doentes e fazê-los recuperar o funcionamento normal do órgão, assim como o médico o faz com qualquer outro da economia humana. Com os objetivos de trazer os estudos acerca do crime e da loucura para a jurisdição médica, sequestrando-a do Direito, Guedes Cabral dá corpo a uma disputa com os profissionais do Direito para definir quais os espaços cada profissional deve ocupar na sociedade.