Análise do perfil de segurança clínica da soroterapia para acidentes ofídicos em um Centro de Referência em Minas Gerais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Nogueira, Denise Christie Souto
Orientador(a): Cota, Gláucia Fernandes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/43542
Resumo: INTRODUÇÃO: Ofidismo ou envenenamento por animais serpentes é considerado um problema de saúde pública. A OMS estima em cerca de 2,7 milhões o número de envenenamentos decorrentes de acidentes por serpentes em todo o mundo, com reconhecidos sub-notificação e escasso investimento por parte da indústria farmacêutica. O tratamento disponível baseia-se na administração de soro heterólogo, uma abordagem espécie-específica historicamente reconhecida por alta taxa de reações de natureza alérgica durante sua administração, mas que ainda carece de dados de eficácia e segurança clínica consistentes. OBJETIVO: Avaliar a segurança clínica dos soros antiofídicos em um centro de referência para ofidismo em Minas Gerais. MÉTODOS: Estudo observacional prospectivo, unicêntrico, baseado na observação periódica e registro sistematizado de manifestações clínicas e laboratoriais novas ou pioradas desde a administração da soroterapia até a alta hospitalar, e depois, em aproximadamente três semanas após a alta, em uma entrevista dirigida, por telefone. Todos os eventos registrados foram classificados quanto a sua localização (local ou sistêmico), intensidade e gravidade (Common Terminology Criteria for Adverse Events), além de nexo causal (Classificação de Naranjo) com a soroterapia. RESULTADOS: Entre 47 participantes tratados com soroterapia no ano de 2019 no Centro de Toxicologia do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, foram registradas 210 manifestações clínicas novas ou pioradas desde a soroterapia, 158 durante a fase de internação e 52 após alta hospitalar. Entre os eventos hospitalares, 62% foram sistêmicos e 38% acometeram o sítio da picada. De forma distinta, entre os eventos registrados após alta, 65% se relacionaram ao sítio da picada, enquanto 35% foram manifestações sistêmicas. A taxa de eventos adversos graves associados à soroterapia foi de 8,5%, em todos os casos reações infusionais com manifestação hemodinâmica ou respiratória. Não se registrou óbito ou sequela permanente nesta série. No geral, a incidência de reação infusional foi de 47% (22/47) e as manifestações mais observadas foram alteração eczematóide difusa da pele (82%), seguida por manifestação respiratória (45,5%) e edema na face (18%); as manifestações menos frequentes foram vômitos, tonteira, tremor, dor muscular localizada e hipotensão arterial, além de retenção urinária. Dois fatores foram identificados como relacionados à ocorrência de reação adversa grave: local do acidente em zona rural e administração de soro em outra unidade de saúde previamente à admissão no centro de toxicologia. CONCLUSÕES: A maior parte dos eventos adversos associados à soroterapia ocorreu durante as primeiras horas de administração do soro, foram em sua maioria de natureza sistêmica e em 82% dos casos de intensidade leve a moderada. Embora a ocorrência de reação infusional seja alta (47%), em todos os casos houve regressão das alterações com o tratamento instituído. Fatores associados à gravidade dos eventos adversos são a ocorrência de acidente em zona rural e a administração prévia de soro.