Características clínicas, epidemiológicas e perfil de citocinas em pacientes naturalmente infectados pelo dengue, zika ou coinfectados durante a epidemia de 2016, Mato Grosso do Sul, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Barbosa, Luciana Santos
Orientador(a): Azeredo, Elzinandes Leal de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/29533
Resumo: Em 2016, vivenciou-se no Brasil uma grande epidemia de arbovírus como dengue (DENV) e Zika (ZIKV), com impactos na infraestrutura da saúde pública brasileira, turismo e economia. Fatores do hospedeiro, virais e epidemiológicos têm sido associados à patogênese dessas doenças. No entanto, os mecanismos envolvidos em cada arbovirose isoladamente ainda não são completamente compreendidos. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivos investigar casos suspeitos de infecção pelos arbovírus DENV e ZIKV, assim como avaliar os parâmetros clínico-laboratoriais e imunológicos de casos confirmados durante epidemia ocorrida em Mato Grosso do Sul (MS), Brasil. durante o ano 2016. Para isto, amostras agudas de pacientes (n= 134) com síndrome de febre aguda suspeita de infecção arboviral, foram investigadas entre fevereiro e março de 2016, em Campo Grande (MS). Paralelamente, realizamos a quantificação de citocinas e quimiocinas circulantes, através de ensaios imunoenzimáticos (ELISA e/ou Luminex). Todas as amostras foram coletadas na fase aguda da doença e submetidas ao diagnóstico de ZIKV e DENV, por técnicas moleculares e sorológicas. Foi investigada também a infecção pelo vírus chikungunya (CHIKV). O diagnostico laboratorial de infecção por arbovírus foi confirmado em 107/134 (79,8%) amostras através da utilização de técnicas sorológicas e/ou moleculares. Os métodos moleculares (RT-PCR) demonstraram que 87/134 (64,9%) das amostras avaliadas foram confirmadas para ZIKV e/ou DENV. Destes, 51 (58,6%) pacientes apresentaram monoinfecção por DENV, 18 (20,7%) monoinfecção por ZIKV e 18 (20,7%) coinfecção por DENV/ZIKV. DENV-1 (62/ 89,9%) e DENV-4 (7/ 10,1%) foram os sorotipos infectantes detectados Nenhum caso foi positivo para CHIKV pelo método molecular, no entanto em sete (5,6%) pacientes havia presença de anticorpos anti-CHIKV da classe IgM, sugerindo infecção recente por CHIKV e cocirculação deste vírus na região, no período da epidemia em questão. Os sintomas comuns incluíram febre, exantema, artralgia, mialgia, fadiga, cefaleia e hiperemia conjuntival. Observamos que prostração e vômitos foram significativamente associados à monoinfecção pelo DENV. Por outro lado, prurido e edema, foram mais associados à monoinfecção pelo ZIKV. Em relação aos parâmetros laboratoriais, os pacientes monoinfectados pelo DENV apresentaram maiores níveis de ALT/TGP em comparação com o grupo monoinfectado pelo ZIKV. A maioria dos pacientes DENV/ZIKV (80%) apresentou manifestações clínicas leves. Por outro lado, alguns pacientes monoinfectados foram hospitalizados e receberam hidratação venosa, reforçando a importância do manejo clinico adequado desses pacientes e reconhecimento precoce de sinais de alarme. No grupo de pacientes estavam incluídas onze gestantes, três apresentaram monoinfecção pelo ZIKV, cinco monoinfecção pelo DENV, duas coinfecção com DENV-1/ZIKV e uma ODF. Foram observados desfechos normais do parto, com exceção de um óbito por insuficiência respiratória de um bebê nascido de mãe coinfectada por DENV-1/ZIKV Todos os pacientes infectados por DENV ou ZIKV apresentaram elevados níveis circulantes de IP10/CXL10, CCL2/MCP-1, TNF-\03B1, IFN- \03B3, IL-6 e IL-15, comparados aos controles. Pacientes coinfectados por DENV/ ZIKV exibiram elevados níveis IP10/CXL10 e TNF-\03B1; e menores níveis de RANTES/CCL5 em relação aos controles. Ainda, níveis significativamente menores de IL-4, IL-6 e de MIP1\03B1/CCL3 foram detectados em gestantes infectadas pelo ZIKV quando comparadas às gestantes saudáveis. Nossos resultados demonstraram que os sinais e sintomas apresentados pelos pacientes foram semelhantes, confirmando a dificuldade no diagnóstico clínico diferencial. No entanto, observamos que os níveis circulantes de AST/TGP foram significativamente maiores em pacientes infectados pelo DENV. Além disso, elevados níveis de citocinas e quimiocinas encontrados no nosso estudo corroboram com as semelhanças de sinais e sintomas clínicos desencadeados por estes vírus. O mecanismo envolvido com a maior produção IP10/CXL10 e TNF-\03B1 e menor produção de RANTES/CCL5 nos pacientes coinfectados são ainda desconhecidos. Estudos futuros serão necessários na elucidação da imunopatogenia da coinfecção DENV/ZIKV.