Leishmaniose visceral canina: aspectos epidemiológicos em ambientes com elevado número de animais e o estudo de Ctenocephalides felis felis no ciclo de Leishmania infantum

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Estevam, Letícia Gracielle Tôrres de Miranda
Orientador(a): Andrade Filho, José Dilermando
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: s.n.
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/59888
Resumo: A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma doença de grande relevância para a saúde pública e os humanos têm 90% de chances de vir a óbito se não diagnosticados e tratados. Os cães também são hospedeiros vertebrados que sofrem graves consequências com a doença e, na área urbana, são os principais reservatórios do agente causador da doença, o protozoário Leishmania infantum. A proximidade desses animais com os seres humanos nos mostra a importância de se dedicar a pesquisas sobre a tríade epidemiológica - hospedeiros, vetores e ambientes - para que medidas de prevenção e controle mais efetivas sejam tomadas. Além de L. infantum, outros patógenos que também podem acometer os cães, como os hemoparasitos Babesia spp., Ehrlichia canis e Anaplasma platys devem ser considerados, visto que podem desencadear nos animais uma infecção mais grave quando em conjunto com L. infantum e por serem potenciais agentes patogênicos emergentes infectando humanos. Para mais, muito se discute sobre a participação de outros possíveis vetores na LVC a partir de dados encontrados na literatura como em áreas endêmicas existirem muitos cães positivos para L. infantum e a taxa de positividade para esses parasitos ser baixa nos flebotomíneos; em alguns locais onde flebotomíneos não foram ainda encontrados, existir cães positivos com infecção autóctone; associações positivas entre infestação de pulgas em cães e a soro conversão desses animais para LV, além de elevado número de cães infestados por pulgas em áreas endêmicas para a doença. Posto isto, pensa-se na hipótese de pulgas participarem de alguma forma do ciclo da LVC. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi investigar sobre a epidemiologia da LV e de hemoparasitoses em cães que habitam em ambientes com elevado número de animais, além disso, investigar a possibilidade da participação de pulgas da espécie Ctenocephalides felis felis no ciclo da leishmaniose visceral canina. O trabalho foi realizado em cidades endêmicas para a LVC e situadas no estado de Minas Gerais. Foram utilizados testes sorológicos (DPP e ELISA) para avaliar a taxa de positividade dos cães em abrigos e a técnica de PCR-RFLP para a confirmação da infecção por L. infantum. Também foram utilizadas técnicas de biologia molecular para o diagnóstico dos hemoparasitos Babesia spp., E. canis e A. platys. Para a detecção de L. infantum em pulgas coletadas de cães de área endêmica para LVC, foi realizada PCR convencional para o alvo v7v8. Pools de pulgas foram submetidos a meios de cultura NNN/LIT para isolar L. infantum e, posteriormente, foram utilizadas técnicas de biologia molecular para a identificação do parasito isolado. Dos cães em que foram coletados os espécimes de pulgas foram coletadas amostras de pele para detecção de L. infantum através de PCR-RFLP e de isolamento em meio de cultura. Assim, foi encontrada nos cães dos abrigos uma taxa de positividade de 33.6% para L. infantum, também foram detectados cães positivos para Leishmania amazonensis em amostra de pele, sendo este o primeiro relato. Ainda nos cães dos abrigos foi observado muitos animais coinfectados por L. infantum e Babesia spp. (36.8%). Em cães com LV de áreas endêmicas, oriundos de residências, observou-se uma taxa de infestação de pulgas C. felis felis de 81.9% em cães de Itabirito e de 67.7% em cães de Sabará. Destas pulgas, 12.7% foram positivas para tripanossomatídeos monoxênicos do gênero Blechomonas no alvo v7v8. Foi possível isolar tripanossomatídeos do gênero Blechomonas também das pulgas submetidas ao meio de cultura. Destes cães em que foram coletadas as pulgas, foi isolado Leishmania guyanensis de fragmentos de pele submetidos ao meio de cultura NNN/LIT. A partir dos resultados obtidos, sugere-se que mais trabalhos devem ser feitos em abrigos de animais para que medidas mais eficazes de prevenção e controle de doenças transmitidas por vetores possam ser desenvolvidas visando tanto a saúde dos animais quanto a saúde pública. Até o momento, não foi possível constatar evidências da participação de pulgas no ciclo de L. infantum, fato importante e, de certa forma, tranquilizador, tendo em vista que a taxa de infestação de cães por pulgas no Brasil é bem elevada. Porém, vale ressaltar que possivelmente reações cruzadas por outros tripanosomatídeos presentes nas pulgas podem ocorrer em testes sorológicos para detecção de Leishmania spp. abrindo perspectivas de investigações futuras nesta área. Além disso, a detecção de L. amazonensis e de L. guyanensis em pele de cães mostra a importância do uso de técnicas moleculares para a identificação da espécie envolvida na infecção e nos traz um alerta de um possível papel do cão como reservatório dessas duas espécies de Leishmania.