Estudo socioambiental do parasitismo intestinal e da resposta imune na giardíase em indivíduos de áreas de vulnerabilidade social e sanitária do estado do Rio de Janeiro, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Teixeira, Phelipe Austríaco
Orientador(a): Cruz, Alda Maria da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/49472
Resumo: Embora sejam associadas às áreas rurais, as enteroparasitoses também constituem um problema de saúde pública nos centros urbanos. Frequentemente, nestas áreas, indivíduos vivem em condições de vulnerabilidade social e a ausência do poder público leva a uma baixa perspectiva de implantação de saneamento, fazendo com que as condições socioambientais favoreçam a transmissão de enteroparasitos. Os objetivos desse trabalho foram: a) Caracterizar a prevalência, distribuição e perfil etiológico do parasitismo intestinal em indivíduos de áreas urbanas de vulnerabilidade social e sanitária do estado do Rio de Janeiro, Brasil; b) Identificar se há associações entre infecção por giárdia com dano intestinal, de citocinas sistêmicas e comprometimento do desenvolvimento fisico. Foram realizados estudos transversais em duas localidades: a) Bairro Imbariê, no município de Duque de Caxias; b) Comunidade localizada no bairro da Tijuca, no município do Rio de Janeiro. A taxa de infecção por parasitos intestinais entre pré-escolares de uma creche na Comunidade localizada no bairro Tijuca foi de 41,4% (36/87). Em Imbariê a frequência de parasitoses intestinais foi 23,4% (108/462), e a infecção por G. intestinlis foi significativamente mais frequente em indivíduos que consumiam água de poço artesiano sem filtragem quando comparados aos indivíduos que consumiam água de poço filtrada [21/65 (32,3%) vs. 3/81 (3,7%)]; razão de prevalência [RP] = 8,7 (2,72-27,96; p <0,001). Geohelmintos foram detectados em 41 (8,9%) indivíduos. Observou-se que o uso de água de poço sem filtração foi associado a maiores taxas de positividade para A. lumbricoides. Nas duas localidades G. intestinalis e A. lumbricoides foram os parasitos mais frequentes. A análise qualitativa da percepção dos profissionais da creche, e dos moradores em Imbariê, constatou que as parasitoses intestinais são problemas recorrentes e habituais nas localidades, sendo desvelada, principalmente, nos casos de eliminação de vermes adultos de A. lumbricoides por crianças. Foram encontradas duas amostras positivas para G. intestinalis em cães errantes na comunidade da Tijuca e quatro em Imbariê. Duas amostras de água de Imbariê foram positivas para giardia pela técnica de PCR. Esses resultados mostram que tanto a transmissão hídrica quanto a zoonotica, aliadas à falta de conhecimento sobre os parasitos devem estar impactando nas altas taxas de prevalência de giárdia nessas localidades. A infecção por giárdia nos préescolares foi associada ao aumento dos níveis plasmáticos de proteína ligadora de ácidos graxos intestinais (I-FABP), redução dos níveis de IL-8 e tendência ao aumento de IL-17. Houve correlação positiva entre os níveis de I-FABP e IL-17, assim como o TNF, sugerindo que o dano epitelial pode estar relacionado à produção de citocinas durante a giardíase. Esses resultados mostram que a ruptura da barreira intestinal também ocorre por dano direto ao endotélio, e apontam para uma possível associação entre alteração de resposta imune e prejuízo do desenvolvimento físico. Os resultados salientam a necessidade do fortalecimento de políticas públicas e melhoramento das condições sociossanitárias no enfrentamento das infecções parasitárias para reduzir o impacto na saúde das "populações negligenciadas".