Dádiva, Ciência e Saúde - uma análise do trabalho de docentes/pesquisadores de uma universidade federal do Rio de janeiro no contexto do produtivismo acadêmico

• Ano de defesa: 2022
• Autor(a) principal: Lima, Jacqueline Lopes de
• Orientador(a): Rotenberg, Lúcia
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/58577

A implementação de práticas neoliberais é uma realidade nas universidades públicas, afetando a produção científica e o ensino superior, com possíveis repercussões na saúde dos professores. Defendemos a ideia de que as relações ou trocas sociais estabelecidas no ambiente acadêmico são regidas pela dádiva (dar, receber, retribuir), em que bens devem estar a serviço do vínculo, e não ao contrário. A proposta desta tese foi analisar as expressões da dádiva presentes no trabalho de docentes universitários e as relações com a saúde durante a pandemia de COVID-19. Buscamos investigar as expectativas e demandas dos docentespesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro em relação às atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão, bem como discutir o trabalho sob a égide do produtivismo acadêmico e suas possíveis repercussões na saúde dos professores/pesquisadores. Utilizamos como dispositivo de análise a Teoria da Dádiva de Marcel Mauss, em diálogo com alguns pressupostos da perspectiva ergológica de Yves Schwartz e do conceito vitalista de saúde de Georges Canguilhem. O estudo teve abordagem qualitativa a partir de entrevistas realizadas com 11 docentes (7 mulheres e 4 homens) da área de Ciências Humanas e Sociais da UFRJ contatados através da técnica de “bola de neve”. As entrevistas (virtuais) foram realizadas no período pandêmico (out/21 a jan/22). Foi realizada análise de conteúdo do corpus, com apoio do software MAXQDA 2022, para a categorização e sistematização do material, tendo gerado os seguintes eixos centrais: Trajetória, Trabalho, Saúde e Efeitos da Pandemia. Optamos por discutir os resultados da pesquisa em duas etapas, que se referem (i) à análise da circulação de dons na atividade de trabalho, guiada pela teoria maussiana da dádiva e (ii) à visão dos docentes sobre o trabalho, o produtivismo acadêmico e seus possíveis impactos à saúde. Enquanto sistema original de trocas na sociedade, a dádiva tem como fundamento o vínculo e a aliança. Os resultados indicaram um empobrecimento dos laços de confiança e do senso de solidariedade no meio acadêmico em favor do individualismo e da competitividade, intensificados pelo produtivismo acadêmico. Pudemos observar que o ciclo dadivoso persiste na atividade docente por meio da manutenção do hau docente e dos modos de resistência à lógica produtivista. Contudo, a cisão do ciclo dadivoso, ao concentrar as ações na obrigação de dar (dar aulas demais, publicar demais, mas sem qualidade), pode criar sujeitos culpados, frustrados ou antiéticos. Os resultados impõem reflexões sobre o papel da Ciência e da Educação sob a égide do neoliberalismo e apontam para a necessidade de novos estudos que considerem o ciclo dadivoso como sistema operador de saúde no trabalho e na vida.