Ciência, agrotóxicos e saúde: um diálogo entre a epistemologia de Imre Lakatos e a obra Primavera Silenciosa de Rachel Carson

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Oliveira, Luã Kramer de
Orientador(a): Vasconcellos, Luiz Carlos Fadel de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/55331
Resumo: A questão dos agrotóxicos é um dos grandes desafios para a saúde pública mundial, pois afeta populações e meio ambiente em escala global. Desde o começo do uso expansivo dos agrotóxicos, a partir da década de 1950, houve reações críticas com expressões no campo científico, como a obra “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson. O objetivo da tese é evidenciar o programa de pesquisa científica aplicada aos estudos sobre agrotóxicos e saúde na obra Primavera Silenciosa. Utilizou-se a proposta teórica da Metodologia dos Programas de Pesquisa Científica (MPPC) de Imre Lakatos, que analisa e descreve os processos de desenvolvimento, mudanças e revoluções das teorias científicas por meio de programas de pesquisa científica, estruturadas pelos elementos: núcleo duro, heurísticas positivas e negativas e cinturão protetor de hipóteses auxiliares. Identificou-se no livro Primavera Silenciosa o programa de pesquisa científica Ecológico (PPC Ecológico) com núcleo duro composto por quatro blocos teóricos: i) evolucionismo; ii) ecologia iii) conservacionismo; e iv) disciplinas da biologia e medicina preventiva. Esse núcleo definiu sete heurísticas negativas e seis heurísticas positivas, que orientam as hipóteses auxiliares, sistematizadas em quatro blocos de hipóteses: i) poluição do meio ambiente total da humanidade; ii) causalidade de doenças relacionadas a produtos químicos; iii) crítica à segurança dos agrotóxicos; e iv) controle ecológico de espécies indesejadas. Avalia-se que houve transferência progressiva de problemas na incorporação do problema dos agrotóxicos pelo PPC Ecológico, pois observou-se a predição de fatos novos em relação aos agrotóxicos e sua interferência na saúde e no meio ambiente, e identificou-se a corroboração empírica desses fatos, demonstrando que o PPC Ecológico é progressivo. Discutiu-se a presença de PPCs concorrentes, como o PPC da entomologia aplicada e da química orgânica aplicada, que compartilham a hipótese auxiliar do controle químico de espécies indesejadas. O PPC Ecológico aponta para duas grandes questões: i) superação da relação de destruição acelerada da natureza estabelecida a partir da revolução industrial; e ii) a defesa de um modelo de agricultura e controle de espécies indesejadas baseadas na biologia e ecologia. Nas pesquisas sobre agrotóxicos, sempre deve-se considerar, entre outros fatores, a hipótese da poluição e intoxicação por agrotóxico como possível causa de impactos sobre a biodiversidade e a saúde humana em regiões de grande utilização dessas substâncias.