Os sentidos da fome no debate político brasileiro de 1986 a 2010

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Brito, Fernanda Ribeiro dos Santos de Sá
Orientador(a): Baptista, Tatiana Wargas de Faria
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/46219
Resumo: O estudo teve como objetivo compreender os diferentes sentidos associados à fome no debate político brasileiro de 1986 a 2010. Buscamos entender os sentidos e argumentos utilizados na retórica política, sendo que as percepções sobre os sentidos e sua temporalidade foram baseadas em Spink e Medrado. Para a delimitação temporal, reafirmamos a redemocratização como marco para retomada do debate sobre a fome, com a realização da I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, em 1986, e o término do governo Lula em 2010 como delimitação final da análise. Foram analisados 20 documentos produzidos dentro desse recorte, divididos a partir do contexto político de cada época. Entre 1986 e 1994, tivemos um cenário que suscitou mobilização popular e maior visibilidade sobre a fome, vista como um problema atrelado à pobreza, à concentração de renda e que exigia um novo modelo de desenvolvimento econômico e social. A principal estratégia para acabar com a fome foi a construção de uma Política de Segurança Alimentar e Nutricional. No período seguinte (1994-2002), o que estava em jogo era a estabilidade econômica e em que momento ocorreria investimento nas questões sociais. A disputa retórica da fome esteve polarizada entre os partidos que disputavam as eleições. Os governos de Fernando Henrique Cardoso tiveram êxito em estabilizar a moeda e iniciaram políticas compensatórias de combate às desigualdades, contudo, as estratégias não modificaram a raiz do problema. Entre 2002 e 2010, com Lula assumindo a presidência, a fome volta a ganhar centralidade. O governo inicia com o Projeto Fome Zero como uma estratégia com potencial para alavancar mudanças mais estruturais, mas perde espaço para o Programa Bolsa Família, que conquista grandes resultados em termos de redução da pobreza, fortalecendo a retórica de que a fome acabou. De forma mais transversal no estudo, observou-se que a participação social também ocupa um lugar importante no combate a fome, sobretudo em âmbito mais local. Foi importante perceber a rede de atores que se mobilizaram no debate sobre a fome. A fome foi utilizada nos documentos com diversos sentidos: resultado da falta de acesso ao alimento; como sinônimo de desnutrição; como sinônimo de insegurança alimentar; e como expressão da pobreza e da desigualdade social. Estudar os sentidos da fome tem um grande potencial para ajudar a compreender e esclarecer as diferenças e disputas em torno dos projetos políticos. Esses sentidos se apresentam em cenários diversos e em momentos de disputas importantes, produzindo argumentos retóricos potentes utilizados para sustentar discursos políticos, mas quando não é mais interessante acioná-los, eles se apagam do discurso político.