Luiz Gonzaga na cena do disco: um estudo de caso na formação do Nordeste

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Macêdo, Elexsandra Morone Isaac de
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/31/31131/tde-22092022-145201/
Resumo: Em julho de 1955, quando a gravadora RCA Victor mandou para as lojas o LP A história do Nordeste na voz de Luiz Gonzaga, o Brasil vivia um momento de tensão entre atraso e progresso. Assimilada social, econômica e culturalmente, essa polarização parecia exigir da sociedade uma escolha entre imobilismo e avanço, com o Nordeste representando a estagnação e o Centro-Sul simbolizando o desenvolvimento. Coletânea de oito canções gravadas por Gonzaga entre os anos de 1947 e 1953, o disco que marcou a estreia do artista no long-play cristalizava esse contraste, materializando-o numa narrativa já esboçada na literatura e nas artes plásticas, mas somente amplificada a partir dos gêneros discursivos dos meios de comunicação e dos mecanismos de uma cultura de massas que crescia e se consolidava. Nesse enredo, não havia nuances: todo nordestino era visto como migrante sertanejo, e todo migrante sertanejo era visto como nordestino. Agreste, zona da mata e litoral, territórios de opulência e de grande complexidade social antes mesmo de sua conversão em região, deram lugar a um conjunto de clichês explorado não apenas nas faixas da compilação, mas especialmente no conteúdo impresso em sua capa e no verso de capa. Do bando de cangaceiros retratado na ilustração frontal ao texto encerrado em sua face posterior, no programa ali contido o consumidor encontrava um imaginário plasmado nos temas da pobreza, da violência, da seca e da migração, tudo apresentado com fragrância épica e em um tom de aventura que flertava com os códigos do faroeste. Composta por êxitos fonográficos e peças menos celebradas, a coletânea teve lançamento no período em que o mercado abandonava o 78rpm para investir na gravação em longplay, formato que alçaria a canção a um patamar de popularização talvez impensável para a indústria cultural que então se desenhava. Por meio de uma leitura-escuta alicerçada no instrumental usado na investigação de questões da canção popular, da literatura, das artes visuais, da tradição oral, do cinema, da produção editorial e do próprio design gráfico, este trabalho busca identificar as camadas que, sobrepostas, acabaram por conferir sentidos ao primeiro LP do sanfoneiro pernambucano, possibilitando sua apropriação como disco a partir de fragmentos da própria história da formação do Nordeste.
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Coletânea de oito canções gravadas por Gonzaga entre os anos de 1947 e 1953, o disco que marcou a estreia do artista no long-play cristalizava esse contraste, materializando-o numa narrativa já esboçada na literatura e nas artes plásticas, mas somente amplificada a partir dos gêneros discursivos dos meios de comunicação e dos mecanismos de uma cultura de massas que crescia e se consolidava. Nesse enredo, não havia nuances: todo nordestino era visto como migrante sertanejo, e todo migrante sertanejo era visto como nordestino. Agreste, zona da mata e litoral, territórios de opulência e de grande complexidade social antes mesmo de sua conversão em região, deram lugar a um conjunto de clichês explorado não apenas nas faixas da compilação, mas especialmente no conteúdo impresso em sua capa e no verso de capa. Do bando de cangaceiros retratado na ilustração frontal ao texto encerrado em sua face posterior, no programa ali contido o consumidor encontrava um imaginário plasmado nos temas da pobreza, da violência, da seca e da migração, tudo apresentado com fragrância épica e em um tom de aventura que flertava com os códigos do faroeste. Composta por êxitos fonográficos e peças menos celebradas, a coletânea teve lançamento no período em que o mercado abandonava o 78rpm para investir na gravação em longplay, formato que alçaria a canção a um patamar de popularização talvez impensável para a indústria cultural que então se desenhava. Por meio de uma leitura-escuta alicerçada no instrumental usado na investigação de questões da canção popular, da literatura, das artes visuais, da tradição oral, do cinema, da produção editorial e do próprio design gráfico, este trabalho busca identificar as camadas que, sobrepostas, acabaram por conferir sentidos ao primeiro LP do sanfoneiro pernambucano, possibilitando sua apropriação como disco a partir de fragmentos da própria história da formação do Nordeste.In July of 1955, when the RCA Victor record label sent to shops the LP The history of Northeast in the voice of Luiz Gonzaga, Brazil experienced a moment of tension between backwardness and progress. Social, economic, and culturally assimilated, this polarization seemed to demand society to choose between halt and dvancement, having the Northeast representing stagnation and the Center-South symbolizing development. A collection of eight songs recorded by Gonzaga between 1947 and 1953, the album that marked the debut of the artist in the Long Play rystallized this contrast, materializing it in a narrative already outlined in the literature and the visual arts, but only amplified through discursive genres of mass media and the mechanisms of a mass culture that was on the rise and being consolidated. In this plot, there were no nuances: every Northeastern was seen as a country migrant, and every country migrant was seen as a Northeastern. The Agreste, the Zona da Mata, and the coast, territories of opulence and great social complexity even before their conversion into a region brought about a range of cliches explored not only on the tracks of the compilation but especially in the printed content on its cover and back cover. From the gang of bandits portrayed on the front illustration to the text embedded on its rear face, in the program it held the consumer found imagery embodied in the themes of poverty, violence, drought, and migration, all displayed with epic fragrance and in an adventurous tone which flirted with the western codes. Composed of phonographic accomplishments and less celebrated pieces, the collection was released in the period in which the market abandoned the 78 rpm to invest in Long Play recording, a format that would boost the song to the level of popularization perhaps unthinkable to the cultural industry that was then being designed. Through a reading-and-listening grounded in the instrumental used on the investigation of matters of popular music, literature, visual arts, oral tradition, cinema, editorial production, and graphic design per se, this work aims to identify the layers that, overlapped, ended up conveying meaning to the first LP of the accordion player from Pernambuco, allowing its appropriation as a disc from the fragments of the history of the Northeast formation itself.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPRezende, Gabriel Sampaio Souza LimaMacêdo, Elexsandra Morone Isaac de2022-01-28info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/31/31131/tde-22092022-145201/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-10-09T13:16:04Zoai:teses.usp.br:tde-22092022-145201Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-10-09T13:16:04Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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