A função vascular e endotelial na doença de Kawasaki a longo prazo
| Autor(a) principal: | |
|---|---|
| Data de Publicação: | 2017 |
| Idioma: | por |
| Título da fonte: | Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) |
| Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10362/21541 |
Resumo: | RESUMO: Introdução - A doença de Kawasaki (DK) é uma vasculite multissistémica autolimitada, afecta predominantemente crianças do género masculino abaixo dos 5 anos de idade e atinge preferencialmente as artérias coronárias, sendo o desenvolvimento de aneurismas a principal complicação na fase aguda. Ocorre a nível mundial em crianças de todas as etnias, com diferentes taxas de incidência, provavelmente por condicionalismos genéticos. Desconhecem-se as taxas de incidência e prevalência na população portuguesa por falta de estudos epidemiológicos nacionais. O prognóstico a longo prazo das complicações cardiovasculares é conhecido e depende da remodelagem das lesões coronárias. Na ausência de compromisso coronário considera-se existir bom prognóstico, suspendendo-se o seguimento destes doentes a curto / médio prazo. Neste grupo, vários investigadores demonstraram que as artérias coronárias são morfologicamente normais a longo prazo, pelo menos angiograficamente. Todavia, questiona-se quer a normal funcionalidade do endotélio vascular, quer o contributo da DK como precursor da aterosclerose. A função vascular pode ser avaliada estudando a função endotelial, a rigidez da parede arterial, a espessura da íntima-média das carótidas e o perfil lipídico. A fisiopatologia da disfunção vascular na DK depende do processo inflamatório e angiogénico associado à vasculite e pode ser caracterizado pelo perfil dos factores de necrose tumoral alfa (TNF-α), de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e concentração do óxido nítrico (NO), entre outros. Este estudo decorreu em duas fases: (fase 1) estudo epidemiológico da DK em Portugal; (Fase 2.a) avaliação da função vascular na DK a longo prazo em comparação com controlos saudáveis; (Fase 2.b) investigação do perfil sérico do TNF-α, VEGF e NO nos mesmos grupos. Objectivos - Fase 1. Descrever a epidemiologia e a incidência e prevalência da DK em crianças hospitalizadas em Portugal num período de 12 anos, entre 2000 e 2011; Fase 2.a. Avaliar a função vascular em adolescentes e jovens adultos longo prazo após a DK, sem atingimento coronário nem outros factores de risco cardiovasculares; Fase 2.b. Estudar o perfil sérico das citocinas TNF-α, VEGF e do NO na mesma população e sua relação com o estado da função vascular. População e Métodos - Fase 1. Estudo retrospectivo dos indivíduos com idade inferior a 20 anos hospitalizados em Portugal com o diagnóstico principal de DK, entre 2000 e 2011. Fez-se uma pesquisa na base de dados nacional dos grupos de diagnóstico homogéneo (GDH) dos doentes hospitalizados com o código 446.1 (DK) da International Classification of Diseases, ninth revision, Clinical Modification (ICD9-CM). Para o cálculo das taxas de incidência e prevalência utilizaram-se os dados populacionais do Census 2011. Os dados do internamento hospitalar foram extraídos de forma anónima, analisando-se: número de doentes, grupo etário, género, resultado, demora hospitalar, ano, região e complicações cardíacas. Os doentes foram estratificados em quatro grupos etários: <5 (este subdividido em <1 e 1-4 anos); 5-9; 10-14; 15-19 anos de idade. As regiões consideradas foram: Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve. As taxas de incidência e prevalência foram expressas por 100.000 crianças, utilizando os dados equivalentes do Census 2011. Fase 2a. Estudo prospectivo para avaliação da função vascular em dois grupos de indivíduos: Grupo Kawasaki, constituído por 43 sujeitos com idade> 11 anos e diagnóstico de DK> 5 anos sem compromisso coronário ou outros factores de risco cardiovascular; Grupo controlo, constituído por 43 indivíduos idênticos e saudáveis. A investigação foi cega para os investigadores. Todos os sujeitos foram avaliados do ponto de vista clínico e analítico, em particular o perfil lipídico e a Proteína C Reactiva. A função vascular foi estimada por tonometria arterial periférica, em duas avaliações (separadas de 3 a 4 semanas), obtendo-se o índice de hiperemia reactiva (RHI) que foi utilizado para definir disfunção endotelial e o índice de aumento (AI) que determinou o estado de rigidez arterial; e por ultra-sonografia para avaliar a espessura da íntima-média das carótidas (IMT) e alterações morfológicas (placas) ou do fluxo. Compararam-se os resultados entre ambos os grupos. Efectuou-se uma análise de regressão multivariada para determinar a relação entre a DK, a disfunção endotelial e o IMT aumentado com os diferentes parâmetros. Fase 2b. Estudo prospectivo, cego para os investigadores, do perfil sérico do TNF-α, VEGF, NO endógeno e seus metabólitos (nitritos e nitratos) nos indivíduos dos grupos Kawasaki e controlo e sua relação com a disfunção endotelial. As características clínicas, o perfil lipídico, as variáveis da função vascular e os resultados do TNF-α, VEGF e NO foram comparadas entre os dois grupos estudados e entre os que tinham disfunção endotelial. Efectuou-se uma análise de regressão multivariada para determinar a relação entre a DK, a disfunção endotelial, o IMT e os valores dos parâmetros analíticos estudados. Resultados - Fase 1. Em 12 anos ocorreram 533 hospitalizações em 470 doentes com DK, efectuaram-se 63 transferências inter-hospitalares e não se registaram recidivas. A idade média de admissão foi de 2,8 anos com predomínio do género masculino (61%). Maioritariamente ocorreu em crianças com idade <5 anos (83%) e destes em 23% de lactentes com <1 ano; apresentou sazonalidade com pico nos meses de inverno e primavera e com predominância nas regiões mais densamente povoadas. A incidência média anual foi de 6,5/100.000 crianças com <5 anos; 4,5/100.000 crianças com <1 ano e 7,8/100.000 para crianças com idade entre 1-4 anos. A prevalência média da DK na população portuguesa foi de 1,85/100.000 indivíduos. Os aneurismas coronários ocorreram em 8,5% dos doentes, sendo mais prevalentes no género masculino (3,4/1) e em idades inferiores (média 1,9 anos). A mortalidade verificada foi de 0,4%. Fase 2a. Os indivíduos de ambos os grupos não diferiram significativamente quanto ao género, idade, peso, altura, índice de massa corporal e pressão arterial. A DK ocorreu em média 15,8 anos antes do estudo. Os dois resultados da tonometria demonstraram boa correlação (RHI_1 RHI_2 = 0,958; p <0,001). O grupo Kawasaki apresentou nas duas avaliações (RHI_1 e RHI_2), valores significativamente inferiores aos verificados no grupo controlo (1,59 e 1,62 vs 1,98 e 2,01; p <0,001). Constatou-se disfunção endotelial em 79,06% do grupo Kawasaki e em 18,6% do grupo controlo. O índice de rigidez arterial (AI) foi idêntico em ambos os grupos (-4,5±7% e -4±8% vs -5±9% e -4,5±9% p = 0,61 e p = 0,63). O IMT médio foi superior no grupo Kawasaki, mas sem significado estatístico (carótida esquerda: 0,447±0,088 vs 0,443±0,059; p = 0,93; carótida direita: 0,441±0,073 vs 0,438±0,058; p = 0,89). Não se observaram placas ou anomalias do fluxo nas carótidas. O perfil lipíco e a PCR foram semelhantes em ambos os grupos. Na análise multivariada o principal factor associado à DK foi um RHI anormal (OD – 16,5; IC 95%; [5,7 – 47,8]; p <0,001) assim, um sujeito com DK tem 16,5 vezes mais risco de ter disfunção endotelial do que os controlos saudáveis. Fase 2b. Na população estudada as concentrações de TNF-α e de VEGF foram mais elevadas nos indivíduos que tiveram DK (1,665±1,230pg/ml vs 1,348±0,584pg/ml; p = 0,713 e 245,763 ± 181,674 pg/ml vs 225,819 ± 216,828 pg/ml; p = 0,361, respectivamente). Quando se comparam os resultados apenas nos indivíduos que tinham disfunção endotelial os resultados foram idênticos, mantendo ausência de significado estatístico. Os níveis de nitratos e nitritos foram ligeiramente inferiores nos sujeitos com DK (27,827 ± 14,875 μM/L vs 31,009 ± 20,076 μM/L; p = 0,492) e na presença de disfunção endotelial, mantendo-se estatisticamente sem significado. O principal parâmetro associado à DK foi o VEGF aumentado (OD – 1,36; IC 95%; [0,69 – 3,74]; p = 0,431), seguido do TNF-α aumentado (OD – 1,13; IC 95%; [0,52 – 2,77]; p = 0,77). Após a DK um sujeito que tenha disfunção endotelial tem 1,6 vezes mais risco de ter aumento do VEGF e 1,3 vezes maior risco de ter uma concentração de NO diminuída em relação aos controlos saudáveis. Conclusões - Este é o primeiro trabalho epidemiológico a longo prazo realizado em Portugal sobre doença de Kawasaki em doentes que requereram hospitalização. A incidência média anual foi de 6,5 casos / 100.000 crianças com idade inferior a 5 anos. As incidências máximas ocorreram na faixa etária entre 1 e 4 anos, sendo em média de 7,8 casos / 100.000 crianças. Teve predilecção pelo género masculino e sazonalidade nos meses de inverno / primavera. Apesar das limitações do estudo, os dados obtidos são consistentes com os de estudos europeus idênticos para caucasianos. As crianças com DK podem ter sequelas a longo prazo, mesmo quando não têm atingimento coronário na fase aguda. Identificámos disfunção endotelial em 79% dos indivíduos que tiveram DK, quando comparados com controlos idênticos nos quais apenas se verificou disfunção em 18%. Não encontramos alterações sugestivas de aterosclerose precoce ou subclínica. A DK revelou-se um preditor a longo prazo de disfunção endotelial, verificando-se que após esta doença um indivíduo tem 16,5 vezes mais risco de ter disfunção endotelial do que um sujeito saudável. Na nossa investigação, obtivemos também um aumento da concentração sérica do TNF-α e do VEGF e uma redução dos níveis séricos de nitritos e nitratos relativamente aos controlos saudáveis. Estas alterações mantiveram-se com discreta acentuação nos indivíduos que apresentaram disfunção endotelial. Apesar da ausência de significado estatístico, o perfil das citocinas estudadas e do NO é compatível com alterações subclínicas e subtis do equilíbrio inflamatório a longo prazo nestes doentes, certamente dependentes da predisposição genética da população estudada. As crianças com DK, com ou sem anomalias das artérias coronárias, parecem ter um perfil cardiovascular mais adverso, sendo aconselhável um seguimento cardiovascular prolongado e aconselhamento preventivo, quer esporádico quer seriado. Se este perfil é a causa ou a consequência de uma função endotelial anormal ainda não foi demonstrado. |
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A função vascular e endotelial na doença de Kawasaki a longo prazoKawasaki DiseaseEndothelial FunctionEndo-PATDoença de KawasakiFunção EndotelialCiências MédicasRESUMO: Introdução - A doença de Kawasaki (DK) é uma vasculite multissistémica autolimitada, afecta predominantemente crianças do género masculino abaixo dos 5 anos de idade e atinge preferencialmente as artérias coronárias, sendo o desenvolvimento de aneurismas a principal complicação na fase aguda. Ocorre a nível mundial em crianças de todas as etnias, com diferentes taxas de incidência, provavelmente por condicionalismos genéticos. Desconhecem-se as taxas de incidência e prevalência na população portuguesa por falta de estudos epidemiológicos nacionais. O prognóstico a longo prazo das complicações cardiovasculares é conhecido e depende da remodelagem das lesões coronárias. Na ausência de compromisso coronário considera-se existir bom prognóstico, suspendendo-se o seguimento destes doentes a curto / médio prazo. Neste grupo, vários investigadores demonstraram que as artérias coronárias são morfologicamente normais a longo prazo, pelo menos angiograficamente. Todavia, questiona-se quer a normal funcionalidade do endotélio vascular, quer o contributo da DK como precursor da aterosclerose. A função vascular pode ser avaliada estudando a função endotelial, a rigidez da parede arterial, a espessura da íntima-média das carótidas e o perfil lipídico. A fisiopatologia da disfunção vascular na DK depende do processo inflamatório e angiogénico associado à vasculite e pode ser caracterizado pelo perfil dos factores de necrose tumoral alfa (TNF-α), de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e concentração do óxido nítrico (NO), entre outros. Este estudo decorreu em duas fases: (fase 1) estudo epidemiológico da DK em Portugal; (Fase 2.a) avaliação da função vascular na DK a longo prazo em comparação com controlos saudáveis; (Fase 2.b) investigação do perfil sérico do TNF-α, VEGF e NO nos mesmos grupos. Objectivos - Fase 1. Descrever a epidemiologia e a incidência e prevalência da DK em crianças hospitalizadas em Portugal num período de 12 anos, entre 2000 e 2011; Fase 2.a. Avaliar a função vascular em adolescentes e jovens adultos longo prazo após a DK, sem atingimento coronário nem outros factores de risco cardiovasculares; Fase 2.b. Estudar o perfil sérico das citocinas TNF-α, VEGF e do NO na mesma população e sua relação com o estado da função vascular. População e Métodos - Fase 1. Estudo retrospectivo dos indivíduos com idade inferior a 20 anos hospitalizados em Portugal com o diagnóstico principal de DK, entre 2000 e 2011. Fez-se uma pesquisa na base de dados nacional dos grupos de diagnóstico homogéneo (GDH) dos doentes hospitalizados com o código 446.1 (DK) da International Classification of Diseases, ninth revision, Clinical Modification (ICD9-CM). Para o cálculo das taxas de incidência e prevalência utilizaram-se os dados populacionais do Census 2011. Os dados do internamento hospitalar foram extraídos de forma anónima, analisando-se: número de doentes, grupo etário, género, resultado, demora hospitalar, ano, região e complicações cardíacas. Os doentes foram estratificados em quatro grupos etários: <5 (este subdividido em <1 e 1-4 anos); 5-9; 10-14; 15-19 anos de idade. As regiões consideradas foram: Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve. As taxas de incidência e prevalência foram expressas por 100.000 crianças, utilizando os dados equivalentes do Census 2011. Fase 2a. Estudo prospectivo para avaliação da função vascular em dois grupos de indivíduos: Grupo Kawasaki, constituído por 43 sujeitos com idade> 11 anos e diagnóstico de DK> 5 anos sem compromisso coronário ou outros factores de risco cardiovascular; Grupo controlo, constituído por 43 indivíduos idênticos e saudáveis. A investigação foi cega para os investigadores. Todos os sujeitos foram avaliados do ponto de vista clínico e analítico, em particular o perfil lipídico e a Proteína C Reactiva. A função vascular foi estimada por tonometria arterial periférica, em duas avaliações (separadas de 3 a 4 semanas), obtendo-se o índice de hiperemia reactiva (RHI) que foi utilizado para definir disfunção endotelial e o índice de aumento (AI) que determinou o estado de rigidez arterial; e por ultra-sonografia para avaliar a espessura da íntima-média das carótidas (IMT) e alterações morfológicas (placas) ou do fluxo. Compararam-se os resultados entre ambos os grupos. Efectuou-se uma análise de regressão multivariada para determinar a relação entre a DK, a disfunção endotelial e o IMT aumentado com os diferentes parâmetros. Fase 2b. Estudo prospectivo, cego para os investigadores, do perfil sérico do TNF-α, VEGF, NO endógeno e seus metabólitos (nitritos e nitratos) nos indivíduos dos grupos Kawasaki e controlo e sua relação com a disfunção endotelial. As características clínicas, o perfil lipídico, as variáveis da função vascular e os resultados do TNF-α, VEGF e NO foram comparadas entre os dois grupos estudados e entre os que tinham disfunção endotelial. Efectuou-se uma análise de regressão multivariada para determinar a relação entre a DK, a disfunção endotelial, o IMT e os valores dos parâmetros analíticos estudados. Resultados - Fase 1. Em 12 anos ocorreram 533 hospitalizações em 470 doentes com DK, efectuaram-se 63 transferências inter-hospitalares e não se registaram recidivas. A idade média de admissão foi de 2,8 anos com predomínio do género masculino (61%). Maioritariamente ocorreu em crianças com idade <5 anos (83%) e destes em 23% de lactentes com <1 ano; apresentou sazonalidade com pico nos meses de inverno e primavera e com predominância nas regiões mais densamente povoadas. A incidência média anual foi de 6,5/100.000 crianças com <5 anos; 4,5/100.000 crianças com <1 ano e 7,8/100.000 para crianças com idade entre 1-4 anos. A prevalência média da DK na população portuguesa foi de 1,85/100.000 indivíduos. Os aneurismas coronários ocorreram em 8,5% dos doentes, sendo mais prevalentes no género masculino (3,4/1) e em idades inferiores (média 1,9 anos). A mortalidade verificada foi de 0,4%. Fase 2a. Os indivíduos de ambos os grupos não diferiram significativamente quanto ao género, idade, peso, altura, índice de massa corporal e pressão arterial. A DK ocorreu em média 15,8 anos antes do estudo. Os dois resultados da tonometria demonstraram boa correlação (RHI_1 RHI_2 = 0,958; p <0,001). O grupo Kawasaki apresentou nas duas avaliações (RHI_1 e RHI_2), valores significativamente inferiores aos verificados no grupo controlo (1,59 e 1,62 vs 1,98 e 2,01; p <0,001). Constatou-se disfunção endotelial em 79,06% do grupo Kawasaki e em 18,6% do grupo controlo. O índice de rigidez arterial (AI) foi idêntico em ambos os grupos (-4,5±7% e -4±8% vs -5±9% e -4,5±9% p = 0,61 e p = 0,63). O IMT médio foi superior no grupo Kawasaki, mas sem significado estatístico (carótida esquerda: 0,447±0,088 vs 0,443±0,059; p = 0,93; carótida direita: 0,441±0,073 vs 0,438±0,058; p = 0,89). Não se observaram placas ou anomalias do fluxo nas carótidas. O perfil lipíco e a PCR foram semelhantes em ambos os grupos. Na análise multivariada o principal factor associado à DK foi um RHI anormal (OD – 16,5; IC 95%; [5,7 – 47,8]; p <0,001) assim, um sujeito com DK tem 16,5 vezes mais risco de ter disfunção endotelial do que os controlos saudáveis. Fase 2b. Na população estudada as concentrações de TNF-α e de VEGF foram mais elevadas nos indivíduos que tiveram DK (1,665±1,230pg/ml vs 1,348±0,584pg/ml; p = 0,713 e 245,763 ± 181,674 pg/ml vs 225,819 ± 216,828 pg/ml; p = 0,361, respectivamente). Quando se comparam os resultados apenas nos indivíduos que tinham disfunção endotelial os resultados foram idênticos, mantendo ausência de significado estatístico. Os níveis de nitratos e nitritos foram ligeiramente inferiores nos sujeitos com DK (27,827 ± 14,875 μM/L vs 31,009 ± 20,076 μM/L; p = 0,492) e na presença de disfunção endotelial, mantendo-se estatisticamente sem significado. O principal parâmetro associado à DK foi o VEGF aumentado (OD – 1,36; IC 95%; [0,69 – 3,74]; p = 0,431), seguido do TNF-α aumentado (OD – 1,13; IC 95%; [0,52 – 2,77]; p = 0,77). Após a DK um sujeito que tenha disfunção endotelial tem 1,6 vezes mais risco de ter aumento do VEGF e 1,3 vezes maior risco de ter uma concentração de NO diminuída em relação aos controlos saudáveis. Conclusões - Este é o primeiro trabalho epidemiológico a longo prazo realizado em Portugal sobre doença de Kawasaki em doentes que requereram hospitalização. A incidência média anual foi de 6,5 casos / 100.000 crianças com idade inferior a 5 anos. As incidências máximas ocorreram na faixa etária entre 1 e 4 anos, sendo em média de 7,8 casos / 100.000 crianças. Teve predilecção pelo género masculino e sazonalidade nos meses de inverno / primavera. Apesar das limitações do estudo, os dados obtidos são consistentes com os de estudos europeus idênticos para caucasianos. As crianças com DK podem ter sequelas a longo prazo, mesmo quando não têm atingimento coronário na fase aguda. Identificámos disfunção endotelial em 79% dos indivíduos que tiveram DK, quando comparados com controlos idênticos nos quais apenas se verificou disfunção em 18%. Não encontramos alterações sugestivas de aterosclerose precoce ou subclínica. A DK revelou-se um preditor a longo prazo de disfunção endotelial, verificando-se que após esta doença um indivíduo tem 16,5 vezes mais risco de ter disfunção endotelial do que um sujeito saudável. Na nossa investigação, obtivemos também um aumento da concentração sérica do TNF-α e do VEGF e uma redução dos níveis séricos de nitritos e nitratos relativamente aos controlos saudáveis. Estas alterações mantiveram-se com discreta acentuação nos indivíduos que apresentaram disfunção endotelial. Apesar da ausência de significado estatístico, o perfil das citocinas estudadas e do NO é compatível com alterações subclínicas e subtis do equilíbrio inflamatório a longo prazo nestes doentes, certamente dependentes da predisposição genética da população estudada. As crianças com DK, com ou sem anomalias das artérias coronárias, parecem ter um perfil cardiovascular mais adverso, sendo aconselhável um seguimento cardiovascular prolongado e aconselhamento preventivo, quer esporádico quer seriado. Se este perfil é a causa ou a consequência de uma função endotelial anormal ainda não foi demonstrado.ABSTRACT: Introduction - Kawasaki disease (KD) is a self-limited multi-systemic vasculitis, affecting predominantly male children under 5 years of age and with a special predilection for the coronary arteries. Development of coronary artery aneurysms is the major complication in the acute phase. It occurs worldwide in children of all ethnics, with different incidence rates and conditioned by genetic characteristics. The incidence and prevalence rates for the Portuguese population are unknown, due to the lack of national epidemiological studies. The long term prognosis of the cardiovascular complications is well known and depends on evolution and on the remodelling process of coronary lesions. Patients without coronary involvement are considered having a good prognosis, thus the follow-up is suspended at short/medium follow-up. In this group of patients it has been demonstrated that the coronary arteries appear to have normal morphology on angiography, nevertheless there are questions about their normal function and the contribution of KD to early development of atherosclerosis. Vascular function might be evaluated through: endothelial function; arterial stiffness; intima-media carotid thickness; lipid profile. The pathophysiology of vascular dysfunction in KD involves the inflammatory and angiogenic pathways committed to the vasculitis process and can be assessed by the serum profile of tumor necrosis factor alpha (TNF-alpha), vascular endothelial growth factor (VEGF) and nitric oxide (NO) in these patients. The present study developed in two phases: (1) an epidemiological study of KD in Portugal; (2.a.) evaluation of vascular function long-term after KD in a cohort of patients; (2.b.) investigation of serum profile of TNF-alpha, VEGF and NO in the same Group of patients. Objectives - Phase 1. To describe the epidemiological characteristics and incidence and prevalence rates of KD in hospitalized children in Portugal for 12 years, between 2000 and 2011; Phase 2.a. To evaluate the vascular function in adolescents and young adults, long term after KD without coronary involvement or any other cardiovascular risk factor compared with an identical group of healthy controls; Phase 2.b. To study the profile of cytokines TNF-alpha, VEGF and of serum NO in both groups and establish its relation with vascular function studied in the previous phase. Population and Methods - Phase 1. Retrospective study of subjects aged < 20 years, hospitalized in Portugal with diagnosis–related group (DRG) code of KD as the primary diagnosis, from 2000 to 2011. We searched the national DRG database for code 446.1 (KD) of the International Classification of Diseases, ninth revision, Clinical Modification (ICD9-CM). Hospital discharge records data were extracted anonymously. We examined KD associated hospitalizations by number of patients, age group, gender, outcome, hospital stay, year, region and cardiac complications. Patients were stratified into 4 age groups: <5 (subdivided into: < 1 and 1-4 years); 5-9; 10-14; 15-19 years of age and into territorial regions: North; Centre; Lisbon; Alentejo and Algarve. We expressed Incidence and prevalence rates per 100,000 children, using the 2011 national census estimates. Phase 2.a. Prospective study to evaluate vascular function in two groups of subjects: Kawasaki group, included 43 patients older than 11 years and with KD diagnosed more than 5 years prior, without coronary involvement or any cardiovascular risk factor; control group, included 43 identical healthy subjects. Their condition was blind to investigators. All individuals had a clinical and analytical investigation (lipid profile and reactive C protein). Peripheral arterial tonometry was used to assess vascular function during two evaluations (separated by 3-4 weeks) made to determine test reproducibility. Reactive hyperaemia index (RHI) defined endothelial dysfunction and augmentation index (AI) arterial stiffness. Assessment of carotid intima-media thickness (IMT), presence of plaques or flow abnormalities has been performed with ultrasonography. Results of both groups were compared. We also performed a multivariate regression analysis to determine the relation between KD, endothelial dysfunction, IMT and the analytical studied parameters. Phase 2.b. We performed a prospective and blind study of the serum profile of TNF-alpha, VEGF, endogenous NO and its metabolites (nitrites and nitrates) on the subjects of both groups (Kawasaki and control) and its relation with endothelial dysfunction. Investigators compared clinical characteristics, lipid profile, parameters of vascular function and results of TNF-α, VEGF and NO serum concentrations between the two groups and in those patients with endothelial dysfunction. We also performed a multivariate regression analysis to determine the relation between KD and endothelial dysfunction with the studied analytical parameters. Results - Phase 1. During the 12 years study period there were 533 hospitalizations in 470 patients with KD, 63 episodes correspond to hospital transfers and we found no relapses. Mean age at admission was 2.8 years, with male predominance (61%). Mostly it occurred in children < 5 years (83%) and in infants <1 year (23%). Peak incidence occurred in winter and spring months and in most populated regions. Mean annual incidence was 6.5/100,000 children <5 years; 4.5/100,000 children <1 year and 7.8/100,000 children aged 1-4 years. Mean prevalence rate of KD for Portuguese population for the studied period was 1.85/100,000 individuals. Coronary aneurysms occurred in 8.5% of patients, being more prevalent in males (3.4/1) and in younger patients (mean age 1.9 years). Mortality rate was 0.4%. Phase 2a. Individuals of both groups had no statistical difference with respect to gender, age, weight, height, body mass index and blood pressure. KD occurred at a mean of 15.8 years prior. Both arterial tonometry measurements (RHI_1 and RHI_2) demonstrate a good correlation (Pearson correlation RHI1_RHI2 = 0.958; p <0.001). The Kawasaki group showed a significantly lower RHI in both evaluations than controls (1.59 and 1.62 vs 1.98 and 2.01; p <0.001). Endothelial dysfunction occurred in 79.06% and 18.6% of subjects of Kawasaki and control group. We found arterial stiffness index (AI) identical for both groups (-4.5±7% and -4±8% vs -5±9% and -4.5±9%; p = 0.61 and p = 0.63). The mean IMT was higher in Kawasaki group, but without statistical significance (left carotid: 0.447±0.088 vs 0.443± 0.059; p = 0.93; right carotid: 0.441 ± 0.073 vs 0.438 ± 0.058; p = 0.89). There were no plaques or flow abnormalities. Lipid profile and PCR were similar for both groups. In multivariate analysis the main factor associated with KD was an abnormal RHI (OD – 16.5; IC 95%; [5.7 – 47.8]; p <0.001), thus a subject with DK is 16.5 times more likely to have endothelial dysfunction than healthy subjects. Phase 2b. In the studied population mean concentrations of TNF-alpha and VEGF were higher after KD (1.665±1.230pg/ml vs 1.348±0.584pg/ml; p = 0.713 and 245.763±181.674pg/ml vs 225.819±216.828pg/ml; p = 0.361). When comparing the results between individuals with endothelial dysfunction, they remain similar and without statistical significancy. The levels of nitrates and nitrites were lower in subjects with DK (27.827±14.875 μM/L vs 31.009±20.076μM/L; p = 0.492) and in the presence of endothelial dysfunction, keeping no statistical significance. The main parameter associated with DK was increased VEGF (OD – 1.36; IC 95%; [0.69 – 3.74]; p = 0.431), followed by increased TNF-alpha (OD – 1.13; IC 95%; [0.52 – 2.77]; p = 0.77). A subject with endothelial dysfunction after KD is 1.6 times more likely to have increased VEGF and 1.3 times higher risk of having a concentration of NO decreased compared to healthy controls. Conclusions - This is the first long term epidemiological study conducted in Portugal on patients having required hospital admission for Kawasaki disease. The mean annual incidence was 6.5 cases/100,000 children under the age of five years. The maximum incidence occurred in the age group between 1 and 4 years with a mean of 7.8 cases/100,000 children, with male predilection and seasonality peaks in the winter / spring months. Data were consistent with similar European studies for caucasians, despite study limitations. Children with KD can have long-term sequelae, even without identifiable coronary involvement in the acute phase. Endothelial dysfunction occurred in 79% of individuals after KD compared with an identical control group, with only 18% dysfunction. We did not find abnormalities suggestive of early or subclinical atherosclerosis. Kawasaki disease proved to be a long-term predictor of endothelial dysfunction at the peripheral level. After KD an individual has 16.5 times more risk to have endothelial dysfunction than a healthy subject. In our research we also found an increase in serum concentrations of TNF-alpha and VEGF and reduced serum levels of nitrites and nitrates after KD, relative to healthy controls. These changes remained with discreet accentuation in individuals with endothelial dysfunction. Despite the lack of statistical significance of these features, the profile of studied inflammatory and angiogenic cytokines and NO are compatible with subclinical or subtle changes in the long-term inflammatory balance in KD patients, conceivably somehow reflecting genetic dependence on the studied population. Children with KD, with or without coronary artery anomalies, seem to have a more adverse cardiovascular profile, and it is recommended to pursue cardiovascular monitoring and preventive counseling, either sporadic or regular. There is no evidence to support this profile as the cause or consequence of an abnormal endothelial function. If this profile is the cause or the consequence of an abnormal endothelial function has not yet been demonstrated.Carmo, Miguel MotaCruz, Eduardo BrazeteRUNPereira, Maria de Fátima Ferreira Pinto Fernandes2017-06-14T13:08:54Z2017-06-082017-06-08T00:00:00Zdoctoral thesisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/21541TID:101330510porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiainstacron:RCAAP2024-05-22T17:26:14Zoai:run.unl.pt:10362/21541Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireinfo@rcaap.ptopendoar:https://opendoar.ac.uk/repository/71602025-05-28T16:57:32.604385Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiafalse |
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RESUMO: Introdução - A doença de Kawasaki (DK) é uma vasculite multissistémica autolimitada, afecta predominantemente crianças do género masculino abaixo dos 5 anos de idade e atinge preferencialmente as artérias coronárias, sendo o desenvolvimento de aneurismas a principal complicação na fase aguda. Ocorre a nível mundial em crianças de todas as etnias, com diferentes taxas de incidência, provavelmente por condicionalismos genéticos. Desconhecem-se as taxas de incidência e prevalência na população portuguesa por falta de estudos epidemiológicos nacionais. O prognóstico a longo prazo das complicações cardiovasculares é conhecido e depende da remodelagem das lesões coronárias. Na ausência de compromisso coronário considera-se existir bom prognóstico, suspendendo-se o seguimento destes doentes a curto / médio prazo. Neste grupo, vários investigadores demonstraram que as artérias coronárias são morfologicamente normais a longo prazo, pelo menos angiograficamente. Todavia, questiona-se quer a normal funcionalidade do endotélio vascular, quer o contributo da DK como precursor da aterosclerose. A função vascular pode ser avaliada estudando a função endotelial, a rigidez da parede arterial, a espessura da íntima-média das carótidas e o perfil lipídico. A fisiopatologia da disfunção vascular na DK depende do processo inflamatório e angiogénico associado à vasculite e pode ser caracterizado pelo perfil dos factores de necrose tumoral alfa (TNF-α), de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e concentração do óxido nítrico (NO), entre outros. Este estudo decorreu em duas fases: (fase 1) estudo epidemiológico da DK em Portugal; (Fase 2.a) avaliação da função vascular na DK a longo prazo em comparação com controlos saudáveis; (Fase 2.b) investigação do perfil sérico do TNF-α, VEGF e NO nos mesmos grupos. Objectivos - Fase 1. Descrever a epidemiologia e a incidência e prevalência da DK em crianças hospitalizadas em Portugal num período de 12 anos, entre 2000 e 2011; Fase 2.a. Avaliar a função vascular em adolescentes e jovens adultos longo prazo após a DK, sem atingimento coronário nem outros factores de risco cardiovasculares; Fase 2.b. Estudar o perfil sérico das citocinas TNF-α, VEGF e do NO na mesma população e sua relação com o estado da função vascular. População e Métodos - Fase 1. Estudo retrospectivo dos indivíduos com idade inferior a 20 anos hospitalizados em Portugal com o diagnóstico principal de DK, entre 2000 e 2011. Fez-se uma pesquisa na base de dados nacional dos grupos de diagnóstico homogéneo (GDH) dos doentes hospitalizados com o código 446.1 (DK) da International Classification of Diseases, ninth revision, Clinical Modification (ICD9-CM). Para o cálculo das taxas de incidência e prevalência utilizaram-se os dados populacionais do Census 2011. Os dados do internamento hospitalar foram extraídos de forma anónima, analisando-se: número de doentes, grupo etário, género, resultado, demora hospitalar, ano, região e complicações cardíacas. Os doentes foram estratificados em quatro grupos etários: <5 (este subdividido em <1 e 1-4 anos); 5-9; 10-14; 15-19 anos de idade. As regiões consideradas foram: Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve. As taxas de incidência e prevalência foram expressas por 100.000 crianças, utilizando os dados equivalentes do Census 2011. Fase 2a. Estudo prospectivo para avaliação da função vascular em dois grupos de indivíduos: Grupo Kawasaki, constituído por 43 sujeitos com idade> 11 anos e diagnóstico de DK> 5 anos sem compromisso coronário ou outros factores de risco cardiovascular; Grupo controlo, constituído por 43 indivíduos idênticos e saudáveis. A investigação foi cega para os investigadores. Todos os sujeitos foram avaliados do ponto de vista clínico e analítico, em particular o perfil lipídico e a Proteína C Reactiva. A função vascular foi estimada por tonometria arterial periférica, em duas avaliações (separadas de 3 a 4 semanas), obtendo-se o índice de hiperemia reactiva (RHI) que foi utilizado para definir disfunção endotelial e o índice de aumento (AI) que determinou o estado de rigidez arterial; e por ultra-sonografia para avaliar a espessura da íntima-média das carótidas (IMT) e alterações morfológicas (placas) ou do fluxo. Compararam-se os resultados entre ambos os grupos. Efectuou-se uma análise de regressão multivariada para determinar a relação entre a DK, a disfunção endotelial e o IMT aumentado com os diferentes parâmetros. Fase 2b. Estudo prospectivo, cego para os investigadores, do perfil sérico do TNF-α, VEGF, NO endógeno e seus metabólitos (nitritos e nitratos) nos indivíduos dos grupos Kawasaki e controlo e sua relação com a disfunção endotelial. As características clínicas, o perfil lipídico, as variáveis da função vascular e os resultados do TNF-α, VEGF e NO foram comparadas entre os dois grupos estudados e entre os que tinham disfunção endotelial. Efectuou-se uma análise de regressão multivariada para determinar a relação entre a DK, a disfunção endotelial, o IMT e os valores dos parâmetros analíticos estudados. Resultados - Fase 1. Em 12 anos ocorreram 533 hospitalizações em 470 doentes com DK, efectuaram-se 63 transferências inter-hospitalares e não se registaram recidivas. A idade média de admissão foi de 2,8 anos com predomínio do género masculino (61%). Maioritariamente ocorreu em crianças com idade <5 anos (83%) e destes em 23% de lactentes com <1 ano; apresentou sazonalidade com pico nos meses de inverno e primavera e com predominância nas regiões mais densamente povoadas. A incidência média anual foi de 6,5/100.000 crianças com <5 anos; 4,5/100.000 crianças com <1 ano e 7,8/100.000 para crianças com idade entre 1-4 anos. A prevalência média da DK na população portuguesa foi de 1,85/100.000 indivíduos. Os aneurismas coronários ocorreram em 8,5% dos doentes, sendo mais prevalentes no género masculino (3,4/1) e em idades inferiores (média 1,9 anos). A mortalidade verificada foi de 0,4%. Fase 2a. Os indivíduos de ambos os grupos não diferiram significativamente quanto ao género, idade, peso, altura, índice de massa corporal e pressão arterial. A DK ocorreu em média 15,8 anos antes do estudo. Os dois resultados da tonometria demonstraram boa correlação (RHI_1 RHI_2 = 0,958; p <0,001). O grupo Kawasaki apresentou nas duas avaliações (RHI_1 e RHI_2), valores significativamente inferiores aos verificados no grupo controlo (1,59 e 1,62 vs 1,98 e 2,01; p <0,001). Constatou-se disfunção endotelial em 79,06% do grupo Kawasaki e em 18,6% do grupo controlo. O índice de rigidez arterial (AI) foi idêntico em ambos os grupos (-4,5±7% e -4±8% vs -5±9% e -4,5±9% p = 0,61 e p = 0,63). O IMT médio foi superior no grupo Kawasaki, mas sem significado estatístico (carótida esquerda: 0,447±0,088 vs 0,443±0,059; p = 0,93; carótida direita: 0,441±0,073 vs 0,438±0,058; p = 0,89). Não se observaram placas ou anomalias do fluxo nas carótidas. O perfil lipíco e a PCR foram semelhantes em ambos os grupos. Na análise multivariada o principal factor associado à DK foi um RHI anormal (OD – 16,5; IC 95%; [5,7 – 47,8]; p <0,001) assim, um sujeito com DK tem 16,5 vezes mais risco de ter disfunção endotelial do que os controlos saudáveis. Fase 2b. Na população estudada as concentrações de TNF-α e de VEGF foram mais elevadas nos indivíduos que tiveram DK (1,665±1,230pg/ml vs 1,348±0,584pg/ml; p = 0,713 e 245,763 ± 181,674 pg/ml vs 225,819 ± 216,828 pg/ml; p = 0,361, respectivamente). Quando se comparam os resultados apenas nos indivíduos que tinham disfunção endotelial os resultados foram idênticos, mantendo ausência de significado estatístico. Os níveis de nitratos e nitritos foram ligeiramente inferiores nos sujeitos com DK (27,827 ± 14,875 μM/L vs 31,009 ± 20,076 μM/L; p = 0,492) e na presença de disfunção endotelial, mantendo-se estatisticamente sem significado. O principal parâmetro associado à DK foi o VEGF aumentado (OD – 1,36; IC 95%; [0,69 – 3,74]; p = 0,431), seguido do TNF-α aumentado (OD – 1,13; IC 95%; [0,52 – 2,77]; p = 0,77). Após a DK um sujeito que tenha disfunção endotelial tem 1,6 vezes mais risco de ter aumento do VEGF e 1,3 vezes maior risco de ter uma concentração de NO diminuída em relação aos controlos saudáveis. Conclusões - Este é o primeiro trabalho epidemiológico a longo prazo realizado em Portugal sobre doença de Kawasaki em doentes que requereram hospitalização. A incidência média anual foi de 6,5 casos / 100.000 crianças com idade inferior a 5 anos. As incidências máximas ocorreram na faixa etária entre 1 e 4 anos, sendo em média de 7,8 casos / 100.000 crianças. Teve predilecção pelo género masculino e sazonalidade nos meses de inverno / primavera. Apesar das limitações do estudo, os dados obtidos são consistentes com os de estudos europeus idênticos para caucasianos. As crianças com DK podem ter sequelas a longo prazo, mesmo quando não têm atingimento coronário na fase aguda. Identificámos disfunção endotelial em 79% dos indivíduos que tiveram DK, quando comparados com controlos idênticos nos quais apenas se verificou disfunção em 18%. Não encontramos alterações sugestivas de aterosclerose precoce ou subclínica. A DK revelou-se um preditor a longo prazo de disfunção endotelial, verificando-se que após esta doença um indivíduo tem 16,5 vezes mais risco de ter disfunção endotelial do que um sujeito saudável. Na nossa investigação, obtivemos também um aumento da concentração sérica do TNF-α e do VEGF e uma redução dos níveis séricos de nitritos e nitratos relativamente aos controlos saudáveis. Estas alterações mantiveram-se com discreta acentuação nos indivíduos que apresentaram disfunção endotelial. Apesar da ausência de significado estatístico, o perfil das citocinas estudadas e do NO é compatível com alterações subclínicas e subtis do equilíbrio inflamatório a longo prazo nestes doentes, certamente dependentes da predisposição genética da população estudada. As crianças com DK, com ou sem anomalias das artérias coronárias, parecem ter um perfil cardiovascular mais adverso, sendo aconselhável um seguimento cardiovascular prolongado e aconselhamento preventivo, quer esporádico quer seriado. Se este perfil é a causa ou a consequência de uma função endotelial anormal ainda não foi demonstrado. |
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