Manuscritos portugueses do Arquivo Regional de Ernakulam, Índia (sécs. XVII-XIX)
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| Publication Date: | 2017 |
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| Source: | Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) |
| Download full: | http://hdl.handle.net/10451/39610 |
Summary: | A antiga Costa do Malabar do sudoeste indiano (actual Estado de Kerala) foi a primeira região asiática a acolher estabelecimentos portugueses e, por consequência, comunidades de língua portuguesa. A presença imperial portuguesa nesta costa durou cerca de um século e meio, desde o início do século XVI até ao momento em que, em meados do século XVII, as importantes fortalezas de Cochim, Coulão, Cananor e Cranganor foram tomadas pelos holandeses. A resiliência da implantação linguística fica demonstrada pelo facto de os crioulos indo-portugueses do Malabar terem sobrevivido até ao séc. XX ou, nalguns casos, XXI (v. Cardoso, Hagemeijer & Alexandre 2015) mas a evidência documental para reconstituir o uso do português nesta região durante o período holandês é extremamente limitada. Porém, o Arquivo Regional de Ernakulam [ARE], nas imediações de Cochim, preserva uma rara colecção de manuscritos em língua portuguesa compostos neste período. Ainda que a constituição do ARE não seja inteiramente clara, Bes (2012: 106), num estudo da documentação em língua holandesa, refere que parece congregar o Arquivo da Casa Real de Cochim e parte do Arquivo do Darbar (cortes anuais) de Cochim. Os documentos em português encontram-se dispersos por 2 colecções identificadas como “Portuguese Records” (série P) e “Dutch Records” (série D) e descritas de forma muito simplificada num catálogo de circulação interna. Este corpus documental, que não fora antes alvo de qualquer estudo, foi integralmente recolhido e transcrito entre 2015 e 2016. A recolha identificou 51 manuscritos em 42 pastas do Arquivo, datados de 1693 a 1816, incluindo: a) correspondência entre a Companhia Holandesa das Índias Orientais e autoridades do Malabar, em particular o Rei de Cochim (incluindo traduções de originais holandeses); b) correspondência entre autoridades católicas e o Rei de Cochim; c) petições/acordos referentes a transacções comerciais e financeiras; d) relações de mercadorias; e) cartas de teor pessoal e familiar; e f) documentos (relatórios e cartas) relativos às missões católicas no Malabar. Estes manuscritos, de dimensão, autoria e origem muito variadas, constituem um corpus de mais de 22.000 palavras que será aqui apresentado e contextualizado pela primeira vez. Pela sua raridade, este corpus é inestimável enquanto repositório da língua portuguesa produzida em Cochim/Malabar e noutras regiões da Ásia (já que contém documentos provenientes de Batávia e Bengala) e indicador dos domínios de uso que a língua aí preservou entre os séculos XVII e XIX. Do ponto de vista linguístico, como veremos, também se observa uma variação extrema, com registos muito próximos do português-padrão L1 da sua época, outros mais divergentes (e certos pontos de contacto com os crioulos locais) e ainda textos claramente produzidos por tradutores para quem o português era uma L2. - Bes, Lennart. 2012. Gold-leaf flattery, Calcuttan dust, and a brand new flagpole: Five little-known VOC collections in Asia on India and Ceylon. Itinerario 36(1): 91-106. - Cardoso, Hugo C., Tjerk Hagemeijer & Nélia Alexandre. 2015. Crioulos de base lexical portuguesa. In Maria Iliescu & Eugeen Roegiest (eds.), Manuel des anthologies, corpus et textes romans, 670-692. Berlim: Mouton de Gruyter. |
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