A arte portuguesa e as fronteiras da Europa

Bibliographic Details
Main Author: Rosmaninho, Nuno
Publication Date: 2016
Format: Article
Language: por
Source: Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
Download full: http://hdl.handle.net/10773/38484
Summary: Este artigo analisa as fronteiras que os historiadores e críticos de arte tiveram de erguer a partir do século XIX para garantir a originalidade e o valor de Portugal. O meu ponto de partida é a noção de Europa: pretendo mostrar a irrelevância deste referente e sugerir que o seu uso se reporta, na maior parte dos casos, aos países centrais. Baseando-me nos discursos identitários sobre a história da arte portuguesa, mostrarei que as fronteiras nacionais reconhecidas até ao fim de Oitocentos eram ténues, episódicas e insusceptíveis de garantir uma sólida autonomia nacional, e que na transição para o século XX os intelectuais repensaram as relações históricas com a Flandres, Espanha, Itália, França e Alemanha e provaram que Portugal era um país artisticamente consistente e autónomo. Não é a ideia de Europa que determina a formação contemporânea de uma identidade artística portuguesa. A Europa só emergiu como unidade artística quando foi preciso combater o internacionalismo, isto é, as vanguardas apátridas e alegadamente judaicas ou orientalizantes. Essa invocação foi, porém, breve e inconsequente, reactiva, e por isso incapaz de travar o fascínio pela globalização. As identidades artísticas nacionais olharam a Europa como um recurso defensivo circunstancial, que serviu nos anos de 1930 e 1940, para resistir ao inapelável avanço da arte moderna. Os patriotas em arte acolheram-se à ideia de Europa para contrariar o processo de mundialização onde se adivinhava a obsolescência dos critérios nacionais oitocentistas.
id RCAP_430c2a85faaaa648ef5cde912e922f1f
oai_identifier_str oai:ria.ua.pt:10773/38484
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
repository_id_str https://opendoar.ac.uk/repository/7160
spelling A arte portuguesa e as fronteiras da EuropaEuropaArte portuguesaIdentidade nacionalFronteirasFlandresEspanhaEste artigo analisa as fronteiras que os historiadores e críticos de arte tiveram de erguer a partir do século XIX para garantir a originalidade e o valor de Portugal. O meu ponto de partida é a noção de Europa: pretendo mostrar a irrelevância deste referente e sugerir que o seu uso se reporta, na maior parte dos casos, aos países centrais. Baseando-me nos discursos identitários sobre a história da arte portuguesa, mostrarei que as fronteiras nacionais reconhecidas até ao fim de Oitocentos eram ténues, episódicas e insusceptíveis de garantir uma sólida autonomia nacional, e que na transição para o século XX os intelectuais repensaram as relações históricas com a Flandres, Espanha, Itália, França e Alemanha e provaram que Portugal era um país artisticamente consistente e autónomo. Não é a ideia de Europa que determina a formação contemporânea de uma identidade artística portuguesa. A Europa só emergiu como unidade artística quando foi preciso combater o internacionalismo, isto é, as vanguardas apátridas e alegadamente judaicas ou orientalizantes. Essa invocação foi, porém, breve e inconsequente, reactiva, e por isso incapaz de travar o fascínio pela globalização. As identidades artísticas nacionais olharam a Europa como um recurso defensivo circunstancial, que serviu nos anos de 1930 e 1940, para resistir ao inapelável avanço da arte moderna. Os patriotas em arte acolheram-se à ideia de Europa para contrariar o processo de mundialização onde se adivinhava a obsolescência dos critérios nacionais oitocentistas.This article analyzes the boundaries that historians and art critics had to establish from the nineteenth century onwards to guarantee Portugal’s originality and value. My starting point is the notion of Europe: I intend to demonstrate the irrelevance of this referent and suggest that its use is reported, in most cases, to central countries. Basing myself on the identity discourses on the history of Portuguese Art, I will show that the national boundaries recognized up to the end of the 1800s were weak, episodic and insusceptible to guarantee a solid national autonomy. Also that in the transition to the twentieth century, intellectuals rethought the historical ties with Flanders, Spain, Italy, France and Germany and proved that Portugal was an artistically consistent and autonomous country. It is not the idea of Europe that determines the contem-porary formation of a Portuguese artistic identity. Europe only emerges as an artistic unit when it was necessary to oppose internationalism, namely, stateless and allegedly Jewish or orientalist vanguards. This invocation was however, brief and inconsequential, reactive and consequently incapable of hindering the fascination for globalization. The national artistic identities looked upon Europe as a circumstantial defensive resource, which served in the 1930s and 1940s to withstand the irrevocable advance of modern art. Patriots in art embraced the idea of Europe to counteract the globalization process where the obsolescence of the nineteenth-century national criteria was foreseen.UA Editora2023-07-10T14:32:07Z2016-01-01T00:00:00Z2016-01-01info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10773/38484por1645-927X10.34624/fb.v0i13.4776Rosmaninho, Nunoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiainstacron:RCAAP2024-05-06T04:47:42Zoai:ria.ua.pt:10773/38484Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireinfo@rcaap.ptopendoar:https://opendoar.ac.uk/repository/71602025-05-28T14:20:32.403467Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiafalse
dc.title.none.fl_str_mv A arte portuguesa e as fronteiras da Europa
title A arte portuguesa e as fronteiras da Europa
spellingShingle A arte portuguesa e as fronteiras da Europa
Rosmaninho, Nuno
Europa
Arte portuguesa
Identidade nacional
Fronteiras
Flandres
Espanha
title_short A arte portuguesa e as fronteiras da Europa
title_full A arte portuguesa e as fronteiras da Europa
title_fullStr A arte portuguesa e as fronteiras da Europa
title_full_unstemmed A arte portuguesa e as fronteiras da Europa
title_sort A arte portuguesa e as fronteiras da Europa
author Rosmaninho, Nuno
author_facet Rosmaninho, Nuno
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Rosmaninho, Nuno
dc.subject.por.fl_str_mv Europa
Arte portuguesa
Identidade nacional
Fronteiras
Flandres
Espanha
topic Europa
Arte portuguesa
Identidade nacional
Fronteiras
Flandres
Espanha
description Este artigo analisa as fronteiras que os historiadores e críticos de arte tiveram de erguer a partir do século XIX para garantir a originalidade e o valor de Portugal. O meu ponto de partida é a noção de Europa: pretendo mostrar a irrelevância deste referente e sugerir que o seu uso se reporta, na maior parte dos casos, aos países centrais. Baseando-me nos discursos identitários sobre a história da arte portuguesa, mostrarei que as fronteiras nacionais reconhecidas até ao fim de Oitocentos eram ténues, episódicas e insusceptíveis de garantir uma sólida autonomia nacional, e que na transição para o século XX os intelectuais repensaram as relações históricas com a Flandres, Espanha, Itália, França e Alemanha e provaram que Portugal era um país artisticamente consistente e autónomo. Não é a ideia de Europa que determina a formação contemporânea de uma identidade artística portuguesa. A Europa só emergiu como unidade artística quando foi preciso combater o internacionalismo, isto é, as vanguardas apátridas e alegadamente judaicas ou orientalizantes. Essa invocação foi, porém, breve e inconsequente, reactiva, e por isso incapaz de travar o fascínio pela globalização. As identidades artísticas nacionais olharam a Europa como um recurso defensivo circunstancial, que serviu nos anos de 1930 e 1940, para resistir ao inapelável avanço da arte moderna. Os patriotas em arte acolheram-se à ideia de Europa para contrariar o processo de mundialização onde se adivinhava a obsolescência dos critérios nacionais oitocentistas.
publishDate 2016
dc.date.none.fl_str_mv 2016-01-01T00:00:00Z
2016-01-01
2023-07-10T14:32:07Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10773/38484
url http://hdl.handle.net/10773/38484
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv 1645-927X
10.34624/fb.v0i13.4776
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv UA Editora
publisher.none.fl_str_mv UA Editora
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
instacron:RCAAP
instname_str FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
collection Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
repository.name.fl_str_mv Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
repository.mail.fl_str_mv info@rcaap.pt
_version_ 1833594514378326016