A aventura quinhentista portuguesa : verdades e mitos na história marítima

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Main Author: Simões, Ascenso Luís Seixas
Publication Date: 2021
Language: por
Source: Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)
Download full: http://hdl.handle.net/10451/56901
Summary: As grandes navegações dos séculos XV e XVI marcaram, de forma determinante, a História Universal e colocaram as nações ibéricas no centro de um novo sistema-mundo. A História de Portugal liga-se com a História de Espanha nessas mesmas navegações. Porque foram os portugueses a romper o Atlântico e a assinalar pela costa as terras já conhecidas de África e da Ásia e porque foram, também, os espanhóis a assinalar, primeiramente, num novo sistema cartográfico que não mais parou de ser aprimorado, as Américas. A estas navegações consagrou-se uma definição historiográfica muito própria - Descobrimentos. Os historiadores portugueses juntaram-lhe outros conceitos como o de Expansão e de Império, e os espanhóis, mantendo o de Império com outra dimensão e outro simbolismo, assumiram a Conquista como conceito central. A historiografia sobre a Aventura Marítima dos portugueses e a presença em territórios de África, Ásia, América e Oceânia assumiu-se sempre muito marcada por um certo patriotismo, por vezes nacionalismo exacerbado. Essa construção histórica determina esta sociedade vivente que transforma os humanos em autómatos de conceitos que, no tempo da desconstrução da história, podem não fazer já muito sentido. A presente investigação incide sobre a validade dos velhos mitos: o da ação determinante no que se pode considerar os Descobrimentos olhados pela representação eurocêntrica; e os do Império, como se Portugal tivesse consagrado um artefacto político, administrativo e militar que lhe permitisse garantir, em contínuo, esse lugar. Não se partiu do mesmo ponto da crítica contemporânea sobre “os impérios”, porque não se promoveu a concordância com o princípio de que os impérios não funcionam e que a longo prazo não é possível governar eficazmente um grande número de povos conquistados. Também se relativizou, mesmo dando-lhe um valor facial mais respeitador, o princípio de que os impérios são motores maléficos de destruição e exploração. Mas há também três novos mitos que se criaram e desenvolveram na historiografia do final século XX e que importa também questionar. O mito da Bonomia Portuguesa, como se se comportasse uma forma diferente de submeter os povos invadidos; o mito da existência de um Conceito Estratégico que tivesse sempre comandado a ação dos protagonistas das navegações e da construção do tal império; e o mito das grandes navegações enquanto ato fundador da Globalização. A todos estes novos mitos se deverá questionar o sentido e recolocar a sua importância no património de uma historiografia mais sufragada. Esta investigação segue, portanto, uma leitura sobre a Aventura, sobre a Verdade e o Mito. Não desagradando os feitos ou fazendo dessa aventura uma história infantil, nem assumindo o mito como uma consideração corrente, seguindo Fernando Pessoa, de que pode ser tudo. As conclusões a que se chegou não menorizam o papel dos portugueses e dos espanhóis na História Universal. Antes o colocam em perspetiva, assumindo as novas implicações que as outras ciências sociais determinam à história. Se os testes de ADN ou as confirmações por Carbono 14 questionam nas proclamações tidas por certas, não se deve deixar de fazer os desvios corretos para que a tese não se veja atropelada pelas evidências. A construção historiográfica não pode ser despida da influência da literatura, ou não fossem as crónicas fontes coevas essenciais; nem deve esquecer a filosofia e a teologia para incrementar as motivações dos aventureiros a cada tempo na relação entre temporal e intemporal. E esse trilho também se seguiu. Esta tese é, pois, um caminho para o questionamento, um recolocar do pensamento e da investigação desenvolvida ao longo do último século numa outra perspetiva que, sendo sustentada, não tem sido comum na academia portuguesa.
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Os historiadores portugueses juntaram-lhe outros conceitos como o de Expansão e de Império, e os espanhóis, mantendo o de Império com outra dimensão e outro simbolismo, assumiram a Conquista como conceito central. A historiografia sobre a Aventura Marítima dos portugueses e a presença em territórios de África, Ásia, América e Oceânia assumiu-se sempre muito marcada por um certo patriotismo, por vezes nacionalismo exacerbado. Essa construção histórica determina esta sociedade vivente que transforma os humanos em autómatos de conceitos que, no tempo da desconstrução da história, podem não fazer já muito sentido. A presente investigação incide sobre a validade dos velhos mitos: o da ação determinante no que se pode considerar os Descobrimentos olhados pela representação eurocêntrica; e os do Império, como se Portugal tivesse consagrado um artefacto político, administrativo e militar que lhe permitisse garantir, em contínuo, esse lugar. Não se partiu do mesmo ponto da crítica contemporânea sobre “os impérios”, porque não se promoveu a concordância com o princípio de que os impérios não funcionam e que a longo prazo não é possível governar eficazmente um grande número de povos conquistados. Também se relativizou, mesmo dando-lhe um valor facial mais respeitador, o princípio de que os impérios são motores maléficos de destruição e exploração. Mas há também três novos mitos que se criaram e desenvolveram na historiografia do final século XX e que importa também questionar. O mito da Bonomia Portuguesa, como se se comportasse uma forma diferente de submeter os povos invadidos; o mito da existência de um Conceito Estratégico que tivesse sempre comandado a ação dos protagonistas das navegações e da construção do tal império; e o mito das grandes navegações enquanto ato fundador da Globalização. A todos estes novos mitos se deverá questionar o sentido e recolocar a sua importância no património de uma historiografia mais sufragada. Esta investigação segue, portanto, uma leitura sobre a Aventura, sobre a Verdade e o Mito. Não desagradando os feitos ou fazendo dessa aventura uma história infantil, nem assumindo o mito como uma consideração corrente, seguindo Fernando Pessoa, de que pode ser tudo. As conclusões a que se chegou não menorizam o papel dos portugueses e dos espanhóis na História Universal. Antes o colocam em perspetiva, assumindo as novas implicações que as outras ciências sociais determinam à história. Se os testes de ADN ou as confirmações por Carbono 14 questionam nas proclamações tidas por certas, não se deve deixar de fazer os desvios corretos para que a tese não se veja atropelada pelas evidências. A construção historiográfica não pode ser despida da influência da literatura, ou não fossem as crónicas fontes coevas essenciais; nem deve esquecer a filosofia e a teologia para incrementar as motivações dos aventureiros a cada tempo na relação entre temporal e intemporal. E esse trilho também se seguiu. Esta tese é, pois, um caminho para o questionamento, um recolocar do pensamento e da investigação desenvolvida ao longo do último século numa outra perspetiva que, sendo sustentada, não tem sido comum na academia portuguesa.The great sailing navigations from the XV and XVI centuries marked decisively Universal History and put both Iberian nations at the centre of a new world-system. Regarding these navigations, Portuguese History and Spanish History are tightly linked. This is due to the fact that while the Portuguese were the ones to break into the Atlantic and delineate, along the coast, the well-known lands from Africa and Asia, it was also the Spanish who, through a new and constantly refined cartographic system, delineated American lands. Such navigations have come to gain a very particular historiography definition – The Discoveries. Portuguese historians refer to it in relation to other concepts, such as expansion and empire, while Spanish historians, also using the term empire (although with a different dimension and symbolism), establish conquest as their central concept. The historiography that covers Portugal’s maritime adventures and the presence of lands from Africa, Asia, America and Oceania has always been assumed to be marked by patriotism, even over-nationalism at times. This historical framing affects our society and transforms us into concept automatons, even though these concepts may not be as sensical in today’s deconstruction of history. The present investigation reflects on the validity of these old myths: that of our defining action in what can be considered the Discoveries as seen by Eurocentric representation; and the myth of the empire, as if Portugal had developed a political, administrative and military mechanism which could have continuously guaranteed such title. We do not depart from the same contemporary critique of “empire” because we do not promote agreement with the principle that empires do not work and that, in the long term, it is not possible to effectively govern a great number of conquered people. While giving it a more respectful face value, we also relativize the principle that empires are evil engines of destruction and exploitation. However, there are also three new myths that have emerged and evolved in the XX century’s historiography which are equally deserving of questioning. The myth of Portuguese humaneness, as if our way of submitting the invaded nations had been different from others; of the existence of a strategic concept that, linked to the grand design, had always led the action of the Discoveries protagonists and the construction of said empire; and the myth which states that these great navigations could be the founding act for globalization. We must question the meaning of all these myths and relocate their importance in the heritage of a more established historiography. This way, our investigation reads into Adventure and Myth, without undermining the accomplishments made and turning such adventure into a children’s story, or seeing the myth as a current consideration that, as Fernando Pessoa defends, might be everything. The conclusions we reach do not belittle the role of the Portuguese and the Spanish in Universal History. Instead, they put it in perspective while assuming our implications which other social sciences assign to History. If DNA tests or Carbon 14 results question proclamations that were taken for granted, we must not seize avoid making the right remarks in order to not get knocked down by evidence. The construction historiography cannot be stripped down of the influence of literature, with chronicles being essential coeval sources. It also must not forget philosophy and theology in order to increment the adventurers’ motivations in each time regarding the relation between temporal and timeless. And we follow this trail as well. This thesis is, then, a way for questioning, for the relocation of the thought and investigation developed during the last century in another perspective, one which, being sustained, has not been common in the Portuguese academy.Domingues, Francisco José Rogado ContenteMatos, Luis Jorge Rodrigues Semedo deRepositório da Universidade de LisboaSimões, Ascenso Luís Seixas2022-12-202021-05-042025-12-20T00:00:00Z2022-12-20T00:00:00Zdoctoral thesisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/56901TID:101645430porinfo:eu-repo/semantics/embargoedAccessreponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiainstacron:RCAAP2025-03-17T14:55:38Zoai:repositorio.ulisboa.pt:10451/56901Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireinfo@rcaap.ptopendoar:https://opendoar.ac.uk/repository/71602025-05-29T03:29:08.422120Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiafalse
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Simões, Ascenso Luís Seixas
Descobrimentos geográficos portugueses - História
Descobrimentos geográficos portugueses - Mitologia
História marítima - Portugal - séc.15-16
Globalização - séc.15-16
Portugal - História - séc.15-20
Teses de doutoramento - 2022
Domínio/Área Científica::Humanidades::História e Arqueologia
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