Prescrição de antimicrobianos em fim de vida
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Publication Date: | 2025 |
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Language: | por |
Source: | Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) |
Download full: | https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i2.14204 |
Summary: | As infeções e os episódios febris constituem complicações comuns em doentes em fase terminal.A literatura mostra-nos que cerca de 29% dos doentes admitidos no hospital encontram-se no seu último ano de vida. Apesar de não existirem dados acerca da prevalência e impacto das infeções neste período, estudos europeus e internacionais apontam para uma alta prevalência com impacto significativo na qualidade de vida, tempo de internamento, utilização de meios hospitalares de diagnóstico e terapêutica, sem benefício ou impacto na sobrevida e na qualidade de vida e contribuem para a emergência de microrganismos resistentes. Os efeitos adversos associados ao uso de antimicrobianos não devem por isso ser negligenciáveis. O síndroma de morte iminente nem sempre é corretamente identificado, promovendo a adoção de atitudes e terapêuticas desproporcionais, nomeadamente de prescrição antimicrobiana sem claro benefício no impacto prognóstico ou na qualidade de vida ou até resultar num agravamento do controlo sintomático, podendo mesmo vir a constituir uma ameaça à qualidade de vida, tanto pelos sintomas que pode causar como pelo potencial de iatrogenia quando a abordagem de cuidados passa pela tentativa do seu tratamento. Perante a inexistência de orientações para a prescrição antimicrobiana para esta população em específico recomenda-se que o diagnóstico e a decisão terapêutica sejam não só rigorosos, como ponderados, privilegiando o bem-estar do doente e respeitando o plano avançado de cuidados definido. Recomenda-se, por isso, que na definição de teto terapêutico a discussão do uso de antimicrobianos surja na mesma proporção com que se discutem outras manobras invasivas. A prescrição de antimicrobianos em cuidados paliativos deve, por isso, tratar-se de um modelo individual, partilhado com o doente e a família, resultante de uma decisão multidisciplinar e requer reavaliação regular, centrada no alívio sintomático e não na sobrevivência. É, assim, fundamental promover a formação em cuidados paliativos, como a inclusão do tema de fim de vida nos programas de controlo à prescrição de antimicrobianos. Os autores consideram que a abordagem às infeções em doentes em situação de fim de vida deve ser foco de investigação e seguir as melhores recomendações disponíveis para a garantia de cuidados centrados na pessoa e na sua dignidade e qualidade de vida. |
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Prescrição de antimicrobianos em fim de vidaAntimicrobial prescription at the end of lifeAntibiotherapyEnd-of-lifePalliative careAntibioterapiaFim de vidaCuidados paliativosAs infeções e os episódios febris constituem complicações comuns em doentes em fase terminal.A literatura mostra-nos que cerca de 29% dos doentes admitidos no hospital encontram-se no seu último ano de vida. Apesar de não existirem dados acerca da prevalência e impacto das infeções neste período, estudos europeus e internacionais apontam para uma alta prevalência com impacto significativo na qualidade de vida, tempo de internamento, utilização de meios hospitalares de diagnóstico e terapêutica, sem benefício ou impacto na sobrevida e na qualidade de vida e contribuem para a emergência de microrganismos resistentes. Os efeitos adversos associados ao uso de antimicrobianos não devem por isso ser negligenciáveis. O síndroma de morte iminente nem sempre é corretamente identificado, promovendo a adoção de atitudes e terapêuticas desproporcionais, nomeadamente de prescrição antimicrobiana sem claro benefício no impacto prognóstico ou na qualidade de vida ou até resultar num agravamento do controlo sintomático, podendo mesmo vir a constituir uma ameaça à qualidade de vida, tanto pelos sintomas que pode causar como pelo potencial de iatrogenia quando a abordagem de cuidados passa pela tentativa do seu tratamento. Perante a inexistência de orientações para a prescrição antimicrobiana para esta população em específico recomenda-se que o diagnóstico e a decisão terapêutica sejam não só rigorosos, como ponderados, privilegiando o bem-estar do doente e respeitando o plano avançado de cuidados definido. Recomenda-se, por isso, que na definição de teto terapêutico a discussão do uso de antimicrobianos surja na mesma proporção com que se discutem outras manobras invasivas. A prescrição de antimicrobianos em cuidados paliativos deve, por isso, tratar-se de um modelo individual, partilhado com o doente e a família, resultante de uma decisão multidisciplinar e requer reavaliação regular, centrada no alívio sintomático e não na sobrevivência. É, assim, fundamental promover a formação em cuidados paliativos, como a inclusão do tema de fim de vida nos programas de controlo à prescrição de antimicrobianos. Os autores consideram que a abordagem às infeções em doentes em situação de fim de vida deve ser foco de investigação e seguir as melhores recomendações disponíveis para a garantia de cuidados centrados na pessoa e na sua dignidade e qualidade de vida.Infections and febrile episodes are common complications in patients in the terminal phase. The literature shows that about 29% of patients admitted to the hospital are in their last year of life. Although there is no data on the prevalence and impact of infections during this period, European and international studies indicate a high prevalence with a significant impact on quality of life, length of hospitalization, and the use of hospital diagnostic and therapeutic resources, without any benefit or impact on survival or quality of life. These infections also contribute to the emergence of resistant microorganisms. Therefore, the adverse effects associated with the use of antimicrobials should not be neglected. The syndrome of impending death is not always correctly identified, leading to the adoption of disproportionate attitudes and treatments, particularly antimicrobial prescriptions without clear benefit in terms of prognostic impact or quality of life. This could even worsen symptom control, potentially becoming a threat to quality of life due to the symptoms they can cause and the potential for iatrogenesis when care approaches involve attempting to treat it. Given the lack of guidelines for antimicrobial prescriptions for this specific population, it is recommended that both diagnosis and therapeutic decisions be rigorous and carefully considered, prioritizing patient well-being and respecting the advanced care plan. It is recommended that, in defining the therapeutic ceiling, the discussion about the use of antimicrobials be given equal importance to the discussion of other invasive measures. The prescription of antimicrobials in palliative care should, therefore, be an individualized model, shared with the patient and family, resulting from a multidisciplinary decision, and requiring regular reassessment, focusing on symptomatic relief rather than survival. It is essential to promote training in palliative care and the inclusion of end-of-life themes in antimicrobial prescription control programs. The authors believe that research should focus on the approach to infections in end-of-life patients and follow the best available recommendations to ensure person-centered care and preserve dignity and quality of life.Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar2025-05-15info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttps://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i2.14204https://doi.org/10.32385/rpmgf.v41i2.14204Portuguese Journal of Family Medicine and General Practice; Vol. 41 No. 2 (2025): Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar; 191-2Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar; Vol. 41 Núm. 2 (2025): Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar; 191-2Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar; Vol. 41 N.º 2 (2025): Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar; 191-22182-51812182-517310.32385/rpmgf.v41i2reponame:Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)instname:FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiainstacron:RCAAPporhttps://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/14204https://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/14204/12040Direitos de Autor (c) 2025 Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiarinfo:eu-repo/semantics/openAccessFlores, RaquelDuarte, RodrigoBorralho, JoãoTeles, Miguel2025-05-17T11:35:21Zoai:ojs.rpmgf.pt:article/14204Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireinfo@rcaap.ptopendoar:https://opendoar.ac.uk/repository/71602025-05-29T07:35:08.161580Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) - FCCN, serviços digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologiafalse |
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As infeções e os episódios febris constituem complicações comuns em doentes em fase terminal.A literatura mostra-nos que cerca de 29% dos doentes admitidos no hospital encontram-se no seu último ano de vida. Apesar de não existirem dados acerca da prevalência e impacto das infeções neste período, estudos europeus e internacionais apontam para uma alta prevalência com impacto significativo na qualidade de vida, tempo de internamento, utilização de meios hospitalares de diagnóstico e terapêutica, sem benefício ou impacto na sobrevida e na qualidade de vida e contribuem para a emergência de microrganismos resistentes. Os efeitos adversos associados ao uso de antimicrobianos não devem por isso ser negligenciáveis. O síndroma de morte iminente nem sempre é corretamente identificado, promovendo a adoção de atitudes e terapêuticas desproporcionais, nomeadamente de prescrição antimicrobiana sem claro benefício no impacto prognóstico ou na qualidade de vida ou até resultar num agravamento do controlo sintomático, podendo mesmo vir a constituir uma ameaça à qualidade de vida, tanto pelos sintomas que pode causar como pelo potencial de iatrogenia quando a abordagem de cuidados passa pela tentativa do seu tratamento. Perante a inexistência de orientações para a prescrição antimicrobiana para esta população em específico recomenda-se que o diagnóstico e a decisão terapêutica sejam não só rigorosos, como ponderados, privilegiando o bem-estar do doente e respeitando o plano avançado de cuidados definido. Recomenda-se, por isso, que na definição de teto terapêutico a discussão do uso de antimicrobianos surja na mesma proporção com que se discutem outras manobras invasivas. A prescrição de antimicrobianos em cuidados paliativos deve, por isso, tratar-se de um modelo individual, partilhado com o doente e a família, resultante de uma decisão multidisciplinar e requer reavaliação regular, centrada no alívio sintomático e não na sobrevivência. É, assim, fundamental promover a formação em cuidados paliativos, como a inclusão do tema de fim de vida nos programas de controlo à prescrição de antimicrobianos. Os autores consideram que a abordagem às infeções em doentes em situação de fim de vida deve ser foco de investigação e seguir as melhores recomendações disponíveis para a garantia de cuidados centrados na pessoa e na sua dignidade e qualidade de vida. |
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