Avaliação do Desirability of Outcome Ranking (DOOR) em pacientes transplantados renais com infecções do trato urinário por bactérias resistentes versus sensíveis aos carbapenêmicos : um estudo de coorte retrospectivo de 10 anos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2025
Autor(a) principal: Baldissera, Giulia Soska
Orientador(a): Rigatto, Maria Helena da Silva Pitombeira
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/290667
Resumo: Base teórica A doença renal crônica (DRC) é uma das moléstias mais prevalentes do mundo, afetando em torno de 10% da população, e acarretando perda de produtividade econômica, dificuldade de convivência social, agravo de doenças cardiovasculares e até mesmo morte. O transplante de rim é uma das possibilidades de tratamento, sendo a terapia curativa para DRC e possibilitando ao indivíduo uma vida sem hemodiálise e suas consequências. Entretanto, infecções urinárias são frequentes complicações desta terapia, o que se torna temerário em um contexto global de emergência de resistência bacteriana. Infecções resistentes aos carbapenêmicos podem apresentar maior dificuldade terapêutica, maior demora no ajuste de antibioticoterapia adequada, além de exigirem, frequentemente, fármacos nefrotóxicos para o seu tratamento. Portanto, estas infecções podem ter risco de pior resposta clínica, aumentado complicações, bem como comprometer a função de enxerto, com possibilidade de perda deste. Nesse contexto, as consequências destas infecções devem ser avaliadas levando – se em consideração diferentes desfechos individualizados em vários níveis, o qual é proporcionado pelo método de Classificação da Desejabilidade dos Desfechos, do inglês, Desirability of Outcome Ranking (DOOR). Objetivo Determinar o DOOR de pacientes transplantados renais com infecções urinárias por gram-negativos resistentes aos carbapenêmicos versus sensíveis, de forma a determinar em qual dos grupos se obteve um desfecho mais desejável em 14 dias. Objetivos secundários foram avaliar mortalidade em 30 dias e perda definitiva de enxerto após um ano. Métodos Realizamos um estudo de coorte retrospectivo, em um hospital universitário do sul do Brasil. Incluímos pacientes sintomáticos com ≥18 anos, transplantados renais, com infecção urinária por bactérias gram-negativas. Excluímos pacientes com óbito em ≤ 48h, que não receberam antibioticoterapia sensível por pelo menos 48h nos primeiros 7 dias da infecção, bacteriúria assintomática, infecção abdominal primária e registros médicos incompletos. Foi comparado 5 o DOOR em 14 dias entre os grupos de pacientes com infecções do trato urinário (ITUs) por bactérias resistentes aos carbapenêmicos versus sensíveis (pareados na proporção de 1:1 pela data da infecção). O DOOR avaliou cinco categorias de eventos (ausência de resposta clínica; complicações infecciosas; graves eventos adversos; complicações relacionadas ao transplante e óbito), classificados em 6 rankings, sendo o primeiro o paciente vivo sem complicações, seguidos pelos pacientes com eventos em 1, 2, 3 ou 4 categorias e, no último ranking, o paciente que evoluiu para óbito. Resultados Das 14,737 uroculturas coletadas de pacientes transplantados, 78,5% isolaram bactérias gram-negativas. Amostras resistentes aos carbapenêmicos representaram 14,2% destas amostras, totalizando 364 pacientes (4,5 amostras por paciente em média). Após as exclusões, 97 pacientes foram incluídos com ITUs por bactérias resistentes aos carbapenêmicos, resultando em uma coorte com 194 pacientes. Pacientes com ITUs por bactérias resistentes aos carbapenêmicos receberam terapia baseada, principalmente, em polimixina (77,4%), enquanto os carbapenêmicos - sensíveis foram principalmente tratados com beta – lactâmicos (97,9%). A probabilidade de um desfecho mais desejável em pacientes com ITU por bactérias resistentes aos carbapenêmicos comparado com pacientes infecção sensível ao carbapenêmico foi 41.3% (34.2% - 48.7%), p = 0,0208. Os pacientes com ITUs por bactérias resistentes aos carbapenêmicos apresentaram tiveram mais complicações relacionadas ao transplante - DOOR: 43,3% (37,6% – 49,2%), p=0,02. Óbito em 30 dias ocorreu para 7,5% da coorte: 7,2% no grupo carbapenêmicos - resistentes e 3,1% no grupo carbapenêmicos - sensíveis (p = 0,34). Perda de enxerto definitiva em um ano ocorreu para 18,6% dos pacientes no grupo carbapenêmicos - resistentes, versus 6,2% no grupo carbapenêmicos sensíveis (p = 0,015). Um pior DOOR em 14 dias foi significativamente relacionado ao óbito em 30 dias e perda de enxerto em 1 ano. Na análise ajustada, não foi demostrado diferença significativa no DOOR entre os grupos: 43,3% (36,2% - 50,8%, valor p = 0,084). Conclusões Nosso estudo demonstrou que pacientes transplantados renais com infecções urinárias por bactérias resistentes aos carbapenêmicos têm uma probabilidade menor de desfecho desejável do que pacientes com infecções por bactérias sensíveis aos carbapenêmicos, com maior 6 proporção de complicações relacionadas ao transplante; contudo, este fato não se confirmou em análise ajustada. Nosso artigo propõe um novo modelo de DOOR para avaliação de infecções urinárias, específico para a população de transplantados renais, que poderá ser expandida e aprimorada em futuros estudos.