Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Figueiredo, Camilla Vieira de
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Orientador(a): |
Pereira, Cicero Roberto
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Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal da Paraíba
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
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Departamento: |
Psicologia Social
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Área do conhecimento CNPq: |
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Link de acesso: |
https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/32068
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Resumo: |
Experiências sociais aversivas ameaçam a saúde e o bem-estar ao provocar nos indivíduos dor social. Pesquisas anteriores apontaram a existência de vieses nos julgamentos de dor social de membros de diferentes grupos sociais. Essas descobertas indicam que endogrupos socialmente valorizados são considerados mais sensíveis à dor social em comparação com exogrupos socialmente desvalorizados. Contudo, esse efeito levanta uma questão crítica, uma vez que a dor é um atributo negativo e os indivíduos evitam situações dolorosas. Assim, atribuir mais dor social ao endogrupo desafia a motivação dos indivíduos para a distinção positiva (i.e., a tendência de fornecer atributos positivos ao endogrupo). Isso sugere que a dor social pode abranger diferentes significados dependendo da dimensão de comparação social presente nas relações intergrupais. Com base nesta premissa, desenvolvemos um programa de pesquisa para abordar a hipótese dos múltiplos significados da dor social e sua influência nos julgamentos de dor social em relação a indivíduos cisgêneros e transgêneros. Nossa tese é de que pessoas cisgênero atribuirão mais dor social a alvos transgêneros do que a alvos cisgênero quando a dimensão de comparação social entre esses grupos se basear no valor social das pertenças identitárias. Nessa dimensão, a dor social deve assumir o seu significado simbólico originalmente negativo e refletir a desvalorização social da identidade transgênero (i.e., dimensão simbólica da dor social). Paradoxalmente, quando a dimensão de comparação social envolver a obtenção de recursos para tratamento da dor social (e.g., receber assistência profissional em saúde mental), os cisgêneros atribuirão menos dor social aos alvos transgêneros (vs. cisgêneros). Nesse caso, a dor social deve assumir uma função utilitária de garantir o maior acesso a recursos assistenciais para o endogrupo (i.e., dimensão utilitária da dor social). Nessa tese, além de apresentar uma revisão da literatura sobre dor social e vieses nos julgamentos de dor social em relações intergrupais hierarquizadas, discutimos os significados da dor social implicados na dinâmica das relações cisgênero-transgênero, uma dinâmica relativamente pouco explorada na psicologia social (Capítulo 1). Nosso programa de investigação inclui quatro estudos empíricos organizados em quatro capítulos empíricos (Capítulos 2-5). Inicialmente, avaliamos a atribuição de dor social a alvos cisgêneros e transgêneros numa dimensão simbólica. Demonstramos que os cisgêneros atribuem mais dor social a transgêneros (vs. cisgêneros), especialmente a mulheres transgênero (Capítulo 2), e que essa atribuição está relacionada à desvalorização social da identidade transgênero (Capítulo 3). Quando aumentamos (vs. diminuímos) a valoração social da identidade transgênero, observamos uma redução do viés em relação à dor social (Capítulo 4). Descobrimos que o viés de dor social ocorre exclusivamente para alvos com sexo masculino atribuído no nascimento (i.e., mulheres transgênero e homens cisgênero) e fornecemos evidências de que a dor social pode servir como um mecanismo para expressar a estigmatização das mulheres transgênero. No Capítulo 5, adicionamos evidências à hipótese dos significados variáveis da dor social, investigando se a atribuição de dor social às mulheres transgênero e aos homens cisgênero é influenciada pela dimensão de comparação social (simbólica vs. utilitária) em que a dor social é avaliada. Analisamos também a relação entre dor social e atribuição de suporte profissional aos alvos. Em geral, os resultados apoiaram nossa hipótese, revelando uma maior atribuição de dor e de suporte à mulher transgênero apenas quando os recursos de assistência à saúde não estavam salientes (i.e., na condição simbólica). Finalmente, no Capítulo 6, apresentamos uma discussão geral e observações finais sobre a pesquisa realizada nessa tese, incluindo as limitações do nosso programa de pesquisa e sugestões para futuras investigações nesta linha de pesquisa. Esse programa de investigação fornece a primeira evidência experimental de que a dor social pode assumir diferentes significados no contexto de relações intergrupais hierarquizadas. O viés de dor social pode, potencialmente, impactar o suporte em saúde mental a membros de exogrupos estigmatizados, como mulheres transgênero. Essas descobertas contribuem para a investigação da dor social ao apresentar mecanismos e funções da dor social ainda inexplorados, particularmente no complexo cenário das relações intergrupais baseadas na identidade de gênero. Elas ajudam a compreender a dinâmica dessas relações e têm implicações potenciais para a intervenção e tratamento da dor de pessoas transgênero. |