O ritornelo do horror em Milton Hatoum
Ano de defesa: | 2018 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Letras - FL (RG) Brasil UFG Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística (FL) |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/8382 |
Resumo: | Este estudo busca refletir sobre o tema do horror pós-colonial na região amazônica e entendê-lo como uma categoria estético-política fundamental nos quatro romances iniciais de Milton Hatoum, Relato de um Certo Oriente (2014), Dois Irmãos (2007), Órfãos do Eldorado (2008) e Cinzas do Norte (2012). O objetivo principal desta pesquisa é analisar de que maneira a impressão do horror se torna indissociável das mazelas do mundo amazônico contemporâneo. De acordo com Luiz Costa Lima (2003), a origem do horror moderno remete à expansão colonial europeia nos continentes africanos e asiáticos desde o século XVI até atingir as margens do continente americano, precipitando o homem moderno, vítima da exploração colonial e pós-colonial, para o abismo do qual não poderá retornar. O horror se constituiria, nesse caso, numa parte inseparável da experiência do homem que nasce nas regiões marginalizadas do mundo, incluindo o próprio Ocidente. Analisamos nesta tese três aspectos fundamentais do horror moderno considerado fundamental e que se conectam na formação do ritornelo, seja em termos de território, desterritorialização e reterritorialização, física ou em termos existenciais: as ressonâncias da aventura colonial no continente africano refletidas nas obras de Joseph Conrad, especialmente o romance No Coração das Trevas (2010), que prefigura as bases do horror de extração pós-colonial que se refletirá nas obras de autores surgidos nas regiões periféricas do mundo ocidental, como nos parece o caso do escritor amazonense Milton Hatoum; também se discute o papel do “escritor menor”, termo cunhado por Gilles Deleuze (2014) e que diz respeito ao estatuto político do escritor que deve assumir o papel na resistência contra a imagem petrificada das formas autoritárias de dominação através da linguagem oficial, caberia ao escritor das margens sabotar e desestabilizar o discurso do colonizador, rompendo com seus preceitos culturais, políticas e culturais. Por fim, reflete-se sobre a figura extrema do horror, a saber, a imagem do narrador que deve resgatar o passado e a memória através do recurso da testemunha, figura intervalar, presente e ausente ao mesmo tempo, aquele que cabe relatar o que, no entanto, pertence ao indizível, a experiência do inaudito e do silêncio, a exigência suprema dos narradores em Milton Hatoum residem nesta tarefa ambígua, a obrigação de relatar o que não pode de forma alguma ser dito, a memória dos narradores se torna insuficiente na tarefa de resgatas dos escombros do passado o mundo amazônico que desapareceu. Tal ideia remete ao conceito de ritornelo proposto por Deleuze e Guattari (2011) um retorno sem retorno de um ciclo arruinado que, no entanto, não chega a seu termo. Como metodologia , servimo-nos de pesquisa bibliográfica, especialmente a corrente epistemológica que se insere na chamada filosofia da diferença, como Jacques Derrida (2005), Edward W. Said (2009), Michel Foucault (2010), Giorgio Agamben (2008), Gilles Deleuze e Félix Guattari (2011). Entre as conclusões possíveis, observamos que nestes quatro romances que tratam de um período histórico recente na história do Amazonas, constituem uma verdadeira cartografia da violência física e psíquica perpetradas pelas sucessivas ondas de colonização e exploração europeias na região. Pôde-se concluir também que a forma como a região se posicionou contra a opressão foi pela via do silêncio, instrumento de resistência capaz de transformar até mesmo a memória em um intrigado sistema de ruínas. A última conclusão é de os narradores não são capazes levar a termo a forma final do testemunho de destruição e violência do horror. Testemunhar, nesse caso, significa dar testemunho da experiência limite do indizível. |