Marcas do cuidado: território da narratividade em saúde da família

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Tritany, Guilherme Fernandes
Orientador(a): Lacerda, Alda
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/54865
Resumo: Esta conversa nos transporta às esquinas poéticas que brotam dessa troca que vivenciamos ao deitar os sofreres em versos de dor, versos que ouvimos e que nos afetam no cotidiano do trabalho em saúde. Médico da Estratégia que sou, gostaria de trazer um pouco dessas estórias; cuidar e contar aqui se entrelaçam como uma máquina: desenhando as marcas desse território narrativo e produzindo as amarras (os vínculos) que nos atam nessa teia de viver, e atravessam os capítulos de nossas vidas na intensidade do campo onde produzimos saúde. Essas afetações coletivas demonstram uma crise nascente ante os olhos dos trabalhadores da saúde da família: tensões do acesso, medo de não ser ouvido e anestesias do sentir são produtos do tecnicismo excessivo, do foco no procedimento, dos não-olhares como defesas contra essa dor do outro, que também nos toca. Proponho que realizemos o mergulho no encontro, nas estórias compartilhadas nascentes nesse entreolhar, nesse instante meio técnico, meio mágico em que se desenrolam frente aos nossos olhos os sofreres que nos trazem. Se formos capazes de enxergá-los, desfazendo as metáforas profissionais com que nos protegemos de seus afetos, rememoraremos tais encontros, e recontaremos suas esquinas, como se as palavras conformassem esse equipamento; não um escudo contra o outro, mas um aparelho de verdades que nos auxiliam nos momentos difíceis do cuidado, precisamente quando nos afetamos, atravessados por inquietações. Também falo da solidão nas decisões duras, da difícil escolha entre acolher e bloquear a queixa; somos deparados com os sofrimentos mais variados: a dor parida pela miséria, a complexidade traduzida em doença (que não é a do livro, mas a do viver). Como lidamos com esses sofrimentos? Seria possível furar essas anestesias, esses bloqueios por um conjunto de tecnologias? Ou dependeria da transformação nos próprios sujeitos envolvidos no cuidado? Trago para nossa conversa contações do cotidiano dessa arena do cuidado. E ofereço-as entrecortadas de soluços e de risos, na tarefa de brotar nos cuidadores para quem falo as sementes das marcas do cuidado, para que juntos possamos produzir um ensinaprendimento que nos sirva a encarar a nós mesmos como sujeitos produtores de encontros transformadores para as vidas com as quais nos deparamos.